Klaus Regling, o alemão que reúne os milhões de que Portugal precisa

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Regling (1º à esq.), numa imagem de 1998, ao lado de Tietmeyer, Trichet e Strauss-Kahn Reuters/Mike Theiler

Director do fundo de ajuda aos países em dificuldades na zona euro desde Julho, este alemão de 60 anos que foi conselheiro de Angela Merkel entre 2008 e 2009 é o rosto do veículo de ajuda que está a ser desenhado para Portugal no âmbito do fundo de socorro aos países em dificuldade na zona euro fundo (FEEF ou EFSF, na sigla convencionada internacionalmente).

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Director do fundo de ajuda aos países em dificuldades na zona euro desde Julho, este alemão de 60 anos que foi conselheiro de Angela Merkel entre 2008 e 2009 é o rosto do veículo de ajuda que está a ser desenhado para Portugal no âmbito do fundo de socorro aos países em dificuldade na zona euro fundo (FEEF ou EFSF, na sigla convencionada internacionalmente).

Antes de Portugal pedir socorro, Regling dizia estar pronto para o accionar. E voltou a repeti-lo agora com mais detalhe: dez dias depois de a “troika” formada pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) definir finalmente o montante e as condições do plano de ajuda, estará pronto para avançar com o programa.

Regling assumiu a liderança do FEEF como o seu primeiro director quando muitas questões estavam em aberto sobre o futuro do fundo. A Grécia tinha sido socorrida pela União Europeia em Maio, fora do quadro de ajuda do FEEF, e cuja criação foi decidida nesse mesmo dia.

A The Economist elogiava-lhe na altura o currículo. Sobre ele escreveu que o passado profissional recomendava um nome como o de Regling para um programa essencial, dizia a revista britânica, para assegurar a assistência financeira de emergência na zona euro num momento de crise.

Passou décadas entre Washington, Berlim e Bruxelas, a saltar entre funções governativas na Alemanha e gabinetes do FMI e da Comissão Europeia.

No ano em que termina o mestrado em Economia (1975), na Universidade de Regensburg, já formado em Hamburgo, vai para Washington como investigador e economista do FMI. Cinco anos mais tarde, regressa a Berlim e por mais cinco aqui fica: primeiro, no departamento económico da associação de bancos alemães (durante um ano) e, depois, como economista no Ministério alemão das Finanças, onde voltará mais tarde, em 1991.Pelo meio, regressa ao FMI, como responsável pela divisão internacional de mercados de capitais – e, aqui, trabalha em Washington e em Jacarta, quando está com o dossier dos países africanos e asiáticos.

A aproximação ao círculo de Bruxelas dá-se, precisamente, nos oito anos em que passará por três departamentos do Ministério alemão das Finanças: nos anos 1990, é uma peça fundamental na criação do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) – uma exigência alemã para aderir ao euro.

O FEEF de Regling

Um interregno de dois anos em funções governativas, como analista do Moore Capital Strategy Group, dá-lhe tempo para depois voltar aos corredores da UE. Desta vez, já não como responsável da Alemanha, mas com assento na Comissão Europeia. Regling passa a director-geral dos Assuntos Económicos e Financeiros, assumindo a pasta durante oito anos, até passar a consultor da chanceler alemã através de um comité de avaliação de políticas financeiras.

É depois disso que fica com a direcção do fundo criado na União Europeia. O modelo grego inspirou a ajuda que depois Regling coordenou à Irlanda. E já depois disso, as incertezas quanto ao futuro de uma Europa a lidar com os países periféricos a lutarem contra a crise da dívida soberana, Regling viu adiadas para Junho deste ano medidas para flexibilizar o FEEF, enquanto já se acerta o mecanismo que vai substituir o actual fundo de ajuda em 2013.

Ao mesmo tempo, tem sido colocado na lista dos potenciais candidatos para presidir ao BCE, quando Jean-Claude Trichet terminar, em Outubro, o mandato de oito anos. A favor teria o facto de ser alemão (depois de Weber se afastar da corrida), mas Berlim quer assegurar o lugar no FEEF e contra si joga também o facto de nunca ter sido governador de um banco central.

Reformas em troca de assistência

“A estratégia adoptada para preservar a estabilidade financeira na zona euro funciona. Isso não quer dizer que todos os problemas estejam resolvidos. Mas o euro, enquanto tal, não está em questão”, dizia Regling numa entrevista publicada no início da semana passada simultaneamente nos jornais Irish Times (irlandês), La Tribune (francês) e Der Standard (austríaco).

A Irlanda foi socorrida já neste quadro de ajuda – em que a assistência do fundo é negociada entre o país e a Comissão Europeia, o BCE e o FMI – e Portugal terá o pacote de assistência definido antes de uma flexibilização, previsivelmente em Junho, do actual fundo – visto entre os 17 do euro como a tábua de salvação dos países em dificuldades.

Em Março, os Estados-membros assumiram um acordo de princípio que estabelece o reforço da capacidade efectiva de empréstimo do fundo de 220 mil milhões de euros para 440 mil milhões de euros.

Como a Grécia e a Irlanda, Portugal terá de assumir compromissos, já que os programas de assistência financeira concedidos aos dois países resgatados foram accionados para permitir o equilíbrio, a prazo, das finanças públicas desses países. A contrapartida é o cumprimento de um plano de austeridade negociado com os governantes. Planos “draconianos”, como corre na imprensa internacional: descidas dos salários, redução das pensões, aumento da carga fiscal e restrições às contratações e cortes na função pública.

Dizia há dias Regling, falando do “período particularmente difícil” que a Europa atravessa na zona euro: “A Grécia fez grandes progressos, mas tem ainda mais anos [em que vai precisar de aplicar medidas de austeridade]. A mesma coisa na Irlanda. Portugal conhece uma batalha política interna. Veremos se pede ou não assistência. Se o fizer, estaremos preparados [para accionar o programa de emergência] ”.

Portugal pediu e o FEEF está pronto. O montante estimado por Bruxelas ronda os 80 mil milhões de euros, e será Klaus Regling que os irá reunir, quando o valor ficar finalmente definido, através de dotações dos Estados-membros do euro e do FMI. Uma estratégia, como diz, que serve para autonomizar as três economias tidas como as mais frágeis da moeda única e assim evitar o contágio a outros países da zona euro.