The Kills

O que verdadeiramente tornava os Kills interessantes, mais abrasivos e com as hormonas em ebulição, como na estreia "Keep On Your Mean Side", ou transportando esse ambiente "trash" para rock minimal, alimentado por circuitos electrónicos, era o jogo de tensões entre a vocalista Alison Mosshart e o guitarrista Jamie Hince. Era assim em palco, frente a frente em pose de provocação mútua, e era assim nos álbuns: era essa energia, real ou ficcionada, que nos atraía até eles - até aos riffs blues via Suicide de Hince e até à voz de glamour decadente, muito rock'n'roll, de Mosshart.

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O que verdadeiramente tornava os Kills interessantes, mais abrasivos e com as hormonas em ebulição, como na estreia "Keep On Your Mean Side", ou transportando esse ambiente "trash" para rock minimal, alimentado por circuitos electrónicos, era o jogo de tensões entre a vocalista Alison Mosshart e o guitarrista Jamie Hince. Era assim em palco, frente a frente em pose de provocação mútua, e era assim nos álbuns: era essa energia, real ou ficcionada, que nos atraía até eles - até aos riffs blues via Suicide de Hince e até à voz de glamour decadente, muito rock'n'roll, de Mosshart.

Ora, entre "Midnight Boom", álbum de 2008, e este "Blood Pressures" agora editado, muito parece ter mudado. E não nos referimos ao romance de Jamie Hince com Kate Moss ou ao facto de Alison Mosshart ter passado grande parte dos últimos três anos com Jack White e restante trupe dos Dead Weather, a "super banda" de que é vocalista. O que mudou não é exterior à banda.

Ouvimos "Blood Pressures" e é como se os Kills tivessem regressado à cave onde gravaram "Keep On Your Mean Side". Mas, em vez da gloriosa rebaldaria e da vontade de fazer tudo já, rápido e o mais intensamente possível porque podia não haver segunda oportunidade, parece-nos que ficaram ali a trabalhar, muito compenetrados e profissionais, nas canções rock'n'roll que lhes são exigidas.

Certo que as fantasmagorias de "Satellite", o primeiro single, são matéria que cativa, com as suas guitarras trabalhadas para soar a órgão Hammond em electrocussão e aquele balanço demoníaco, qual banda garage na Jamaica. Não negamos que "Nail in my coffin" pode levá-los a digressões conjuntas com os Dead Weather - parece realmente saída da imaginação de Jack White -, ou que o blues em cabedal da "downtown" nova-iorquina que veste "DNA" tem a pinta dos Kills de outrora. Mas atravessamos o álbum de uma ponta à outra e encaramos esses momentos como fogachos num todo a que faltam chama e tensão.

Chegamos a "Baby says", exclamamos "olha, lembraram-se dos Pretenders", e é óbvio que algo falhou. Ouvimos o refrão "she comes alive when she's dying", estranhamente mal cosido ali a meio de "Damned if she do", e não há vestígios de vertigem ou perigo - é só mais uma canção dos Kills.Expliquemo-nos da forma mais simples possível. Basicamente, a pressão sanguínea de "Blood Pressures" está um pouco abaixo do desejável.