População mundial de abelhas está a ser “bombardeada” por série de ameaças
“Os seres humanos fabricaram a ilusão de que, no século XXI, têm o progresso tecnológico necessário para serem independentes da natureza. Mas as abelhas mostram que estamos mais, não menos, dependentes dos serviços prestados pela natureza, num mundo perto dos sete mil milhões de habitantes”, comentou hoje Achim Steiner, director-executivo do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (Pnua), em comunicado.
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“Os seres humanos fabricaram a ilusão de que, no século XXI, têm o progresso tecnológico necessário para serem independentes da natureza. Mas as abelhas mostram que estamos mais, não menos, dependentes dos serviços prestados pela natureza, num mundo perto dos sete mil milhões de habitantes”, comentou hoje Achim Steiner, director-executivo do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (Pnua), em comunicado.
Actualmente, das cem espécies de culturas agrícolas que fornecem 90 por cento dos alimentos do mundo, mais de 70 são polinizadas por abelhas. Na Europa, há quatro mil variedades de vegetais que só existem graças à polinização, salienta o relatório “Global Bee Colony Disorders and other Threats to Insect Pollinators”.
O valor económico global da polinização, serviço prestado pelas abelhas, estará entre os 22,8 e os 57 mil milhões de euros, segundo o Pnua.
O declínio das abelhas é um problema latente há, pelo menos, 40 anos. Na Europa, a gravidade subiu de tom desde 1998, especialmente na França, Bélgica, Suíça, Alemanha, Reino Unido, Holanda, Itália e Espanha. Nos Estados Unidos, nunca houve tão poucas colmeias nos últimos 50 anos como agora. Os apicultores chineses começaram recentemente a registar "vários sintomas inexplicáveis e complexos de perdas", revela o relatório. Um quarto dos apicultores no Japão "viram-se recentemente confrontados com perdas súbitas das suas colmeias". E em África, mais concretamente no Egipto, apicultores ao longo do rio Nilo têm dado conta de sinais de "colapso" nas colmeias.
Não há uma, mas várias explicações para o fenómeno. De acordo com o relatório, existem hoje novos tipos de fungos patogénicos, potencialmente mortais para os insectos, e que viajam pelo planeta graças à globalização. A varroa, parasita que ataca as colmeias, é especialmente preocupante.
Entretanto, cerca de 20 mil plantas com flor – das quais se alimentam as abelhas – poderão desaparecer nas próximas décadas. Para agravar o cenário, a poluição do ar pode estar a interferir com a capacidade destes insectos encontrarem as plantas onde vão buscar alimento. Os aromas que, no século XIX, se propagavam por mais de 800 metros, hoje não vão além dos 200 metros a partir da planta.
Além disso, as abelhas enfrentam a ameaça do uso mais intensivo dos químicos na agricultura e das alterações climáticas que podem alterar os períodos de floração e das chuvas. Outra ameaça são as espécies invasoras, como as abelhas africanas nos Estados Unidos e a abelha asiática na Europa.
O relatório fala ainda dos campos electromagnéticos, de fontes como as linhas de electricidade, que podem alterar o comportamento das abelhas.
Os autores do relatório – coordenados por Peter Neumann (do Centro suíço de Investigação sobre Abelhas) e Marie-Pierre Chauzat (da Agência francesa para o Ambiente) - pedem incentivos aos agricultores e apicultores que recuperem os habitats das abelhas e que tenham cuidado com os períodos de aplicação de insecticidas, por exemplo.