Criança sudanesa que deu Pulitzer ao fotógrafo Kevin Carter sobreviveu ao abutre
Deve o fotojornalista apenas mostrar a realidade crua através da sua lente ou interferir nela quando a sua consciência assim o exige? Kevin Carter achou que não devia interferir, em 1993, quando fotografou, a imagem de um bebé do Sudão, caído no chão, enquanto no mesmo plano um abutre esperava pacientemente pela refeição. Não salvou a criança e o mundo, que deu o bebé como morto, criticou-o e chamou-lhe a ele próprio abutre. Carter acabou por ganhar o prémio Pulitzer com esta imagem, depois publicada pelo New York Times, mas a imagem perseguiu-o.
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Deve o fotojornalista apenas mostrar a realidade crua através da sua lente ou interferir nela quando a sua consciência assim o exige? Kevin Carter achou que não devia interferir, em 1993, quando fotografou, a imagem de um bebé do Sudão, caído no chão, enquanto no mesmo plano um abutre esperava pacientemente pela refeição. Não salvou a criança e o mundo, que deu o bebé como morto, criticou-o e chamou-lhe a ele próprio abutre. Carter acabou por ganhar o prémio Pulitzer com esta imagem, depois publicada pelo New York Times, mas a imagem perseguiu-o.
Afinal, conta este fim-de-semana o El Mundo, o bebé era um menino, chamava-se Kong Nyong, e sobreviveu ao abutre. Segundo o jornal espanhol a enfermeira Florence Mourin, que coordenava os trabalhos do programa das Nações Unidas para o combate à fome no Sudão em Ayod, o local onde tudo aconteceu, que o menino estava a ser acompanhado, como prova a pulseira branca na mão direita, que se podia ver na fotografia premiada. Uns tinham a letra T nas pulseiras, para casos de subnutrição grave. Outros tinham a letra S, quando precisavam de suplementos alimentares. Kong, que tinha marcada na pulseira a inscrição T3, sofria de subnutrição grave, foi o terceiro a chegar ao centro das Nações Unidas. E sobreviveu, conta Florence ao El Mundo, que foi até Ayod para reconstituir, 18 anos depois, a história daquela imagem.
Kong viveu até 2007, depois morreu de “febres”, contou o pai do menino.
Carter fundou com Ken Oosterbroek, Greg Marinovich e João Silva - o fotojornalista lusodescendente que perdeu as pernas num acidente no Afeganistão em Outubro passado - o Bang Bang Club. O movimento denunciou, pela fotografia, os crimes do apartheid na África do Sul.
Em Abril de 1994, pouco depois do anúncio do Pulitzer, Osterbroek morreu, baleado, quando fotografava um tiroteio em Tozoka, África do Sul.
Carter, que era descrito como alguém que profissionalmente procurava sempre o limite da condição humana, era também arrastado facilmente para a depressão pela força do seu próprio trabalho, contavam os amigos. Dizia que se não fotografasse seria piloto de Fórmula 1, por gostar de viver no limite. Entregou-se às drogas e acabou por se suicidar, tinha 33 anos.
A fome no Sudão matou 600 mil pessoas em 1993. A guerra civil e a seca provocaram no país centenas de refugiados naquela década. O país continua a ser um dos focos de crise humanitária mais graves do planeta.
Notícia corrigida a 03-03-2011