Ninguém esperava uma navalha numa escola “segura”
Carla Duarte, do 10.º ano, diz que foi tudo muito rápido. Uns encontrões entre os dois rapazes, que já tinham “andado ao soco de manhã” e depois muitos outros a separarem-nos. Enquanto os afastavam, Carla deitou um olhar a Uriel Costa, do 11.º ano – “Havia gente a agarrá-lo e ele disse: ‘Deixem, estou bem’”. Foi quando Carla olhou para A e viu a navalha.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Carla Duarte, do 10.º ano, diz que foi tudo muito rápido. Uns encontrões entre os dois rapazes, que já tinham “andado ao soco de manhã” e depois muitos outros a separarem-nos. Enquanto os afastavam, Carla deitou um olhar a Uriel Costa, do 11.º ano – “Havia gente a agarrá-lo e ele disse: ‘Deixem, estou bem’”. Foi quando Carla olhou para A e viu a navalha.
Há quem diga que ele a ameaçou: “Não é verdade: ele tinha a navalha a sair da manga e eu pus-me à frente, só isso”; e que A. tentou incriminar outro colega: “Ele só disse: ‘Desculpa’. Pedi-lhe para a ir comigo à direcção e estávamos a caminho quando alguém gritou que o Uriel estava ferido”, conta Carla.Tudo aconteceu “muito depressa”, outra vez. A., que entrou na escola de 650 alunos este ano lectivo, viu um grupo de rapazes a correr na sua direcção. Foi então que largou a correr e abriu o portão, fugindo. Contam os colegas que o funcionário que controla as entradas e saídas, tomado de surpresa, já só travou os perseguidores. Pouco depois, A. atendia o telefone a Carla: “Disse que não sabia por que tinha feito aquilo e que se ia entregar à GNR”. Assim viria a fazer, de facto, com o pai.
Na escola, Uriel lutava para não desmaiar. “Não vimos logo o sangue e ele também não. Ainda levou um bocado a percebermos o que estava a acontecer”, descreveu Carolina Gonçalves, do 10.º ano. “Apanhou uma facada no tórax, outra no abdómen, duas nas costas, outra na cabeça”, descreveu João Costa, pai de Uriel, ao fim da tarde. Acabava de saber que a intervenção cirúrgica ao tórax, nos Hospitais da Universidade de Coimbra, fora concluída com sucesso.
Uriel está a fazer o 11.º ano e quer candidatar-se ao ensino superior. A. era “o mais sossegado” de “uma turma um pouco problemática”, do Curso de Educação e Formação de assistente comercial. Como Uriel, não tinha sido alvo de qualquer participação disciplinar, disse o director da escola, João Pereira.Tiago Penacho, da associação de estudantes, queixa-se da dificuldade em falar com a direcção, mas assegura que a falta de segurança não fazia, até ontem, parte da lista de preocupações. Da do director também não: “Isto era imprevisível, estamos num meio rural! Temos cartão electrónico, mas não revistamos os alunos”, insistiu.
Ontem, o Ministério da Educação recordou que as participações de actos de violência nas escolas continuam a baixar, depois de uma diminuição de 45 por cento entre 20052006 (11 mil ocorrências) e 2007/2008 (seis mil). A existência de armas – brancas e de fogo – é muito rara, correspondendo a cerca de dois por cento do total de casos. Já passava das 22h00, ontem, quando, depois ouvir A., o Tribunal de Soure lhe determinou a permanência obrigatória na residência.
com Clara Viana