Víctor Bento: “Crise do euro era fácil de prever”
A falar, na conferência de apresentação do estudo “A Gestão Empresarial em 2010” da AESE, o economista e presidente da SIBS, defendeu que, numa análise a dados macroeconómicos aos 30 anos que precederam a união monetária, já se evidenciavam os PIIGS – Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha, com taxas de inflação superiores aos restantes países da zona euro. Estes foram também os países que mais desvalorizaram as suas moedas, no período descrito.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A falar, na conferência de apresentação do estudo “A Gestão Empresarial em 2010” da AESE, o economista e presidente da SIBS, defendeu que, numa análise a dados macroeconómicos aos 30 anos que precederam a união monetária, já se evidenciavam os PIIGS – Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha, com taxas de inflação superiores aos restantes países da zona euro. Estes foram também os países que mais desvalorizaram as suas moedas, no período descrito.
Fazendo uma comparação das sociedades, com especial relevo para a Alemanha em contraponto aos latinos, Vítor Bento destaca que enquanto os germânicos valorizam aspectos de sustentabilidade a longo prazo, os países do sul são mais “do deixa andar”, afirmando que têm mesmo uma “aversão à responsabilidade”. Estes aspectos geram inflação, endividamento e uma moeda fraca, diz. Com base nisto, o economista afirma que “a responsabilidade é mais das sociedades e não da governação".
Além disso, o economista defende que o problema do euro não está nas regras de convergência para a adesão ao euro, afirmando que o que falhou foi o “policiamento”, não o interno mas aquele que deveria ser efectuado pelos próprios mercados, através da subida das taxas de juro. “A abundância da liquidez [no período em que o euro entrou em vigor] foi a droga que embriagou os mercados e os fez adormecer”. Quando os mercados “acordaram a casa já estava desarrumada”.
A sociedade encontrava-se, portanto, numa “inércia inflacionista”. Havia um desequilíbrio entre o sector transaccionável e o não transaccionável. Este desequilíbrio provém da fixação da taxa de câmbio (euro) que diz respeito ao mercado interno (zona euro) e por isso há um maior controlo, enquanto que o sector não transacionável é mais difícil de controlar, “não tem disciplina” e por isso com a permanência de uma procura elevada, os preços continuam a aumentar. A produtividade não acompanhou este aumento de preços, por isso a crise do euro surge como um ajuste destas “placas tectónicas”. Em consequência de tudo isto salienta, “a crise do euro era previsível”.
“Aquilo a que assistimos hoje não é diferente das crises cambiais do passado mas tem uma roupagem diferente”, afirma, antecipando que o “ajustamento vai ser violento”.
Este discurso foi proferido hoje em Lisboa, na Conferência de apresentação do estudo “A Gestão Empresarial em 2010” da AESE em parceria com a Accenture.