Óful

Ele há seguramente gostos para tudo, mas somos dos que pensam que Alejandro Gonzalez Iñarritu, o realizador mexicano de "Amor Cão" e "Babel", é o grande "bluff" da primeira década do século XXI. E a dimensão do "bluff" - a "importância" de Iñarritu - tem muito a ver com o facto de esta ter sido a década em que a Internet se consagrou como território da (mesma) "opinião" replicada ad nauseam, mas não vale a pena ir agora por aí. Sejamos sucintos: não é "Biutiful" que nos vem mudar as ideias, bem pelo contrário. Trata-se de um "bluff" tão grande como qualquer outro filme de Iñarritu.

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Ele há seguramente gostos para tudo, mas somos dos que pensam que Alejandro Gonzalez Iñarritu, o realizador mexicano de "Amor Cão" e "Babel", é o grande "bluff" da primeira década do século XXI. E a dimensão do "bluff" - a "importância" de Iñarritu - tem muito a ver com o facto de esta ter sido a década em que a Internet se consagrou como território da (mesma) "opinião" replicada ad nauseam, mas não vale a pena ir agora por aí. Sejamos sucintos: não é "Biutiful" que nos vem mudar as ideias, bem pelo contrário. Trata-se de um "bluff" tão grande como qualquer outro filme de Iñarritu.


A "pequena história" por trás de "Biutiful" regista que depois de Iñarritu se ter zangado com o seu argumentista Guillermo Arriaga (que se achava, parece, o responsável pela "obras primas" de Iñarritu) se aventurou aqui pela primeira vez a "solo" (ou enfim, com outros argumentistas). A primeira conclusão é óbvia: não era por causa de Arriaga que Iñarritu era mau, porque mesmo sem ele continua a sê-lo. Mas há uma consequência, porque Iñarritu não quis seguir, em "Biutiful", a marca dos argumentos de Arriaga (as estruturas em "mosaico", que levaram tanta gente ao êxtase perante a "montagem" de "Babel", por exemplo), e agarrou-se a uma história contada com uma linearidade absoluta ou quase absoluta, com uma personagem central (Javier Bardem) e uma geografia concentrada na cidade de Barcelona.

Muda isto, de facto, alguma coisa? Só se for que, desprovido de "truques", o cinema de Iñarritu se expõe mais na sua debilidade, na sua falta de subtileza, e se tal era possível, no seu oportunismo. São ainda as "dores da humanidade", em fundo de miséria (como em "Babel", com uma leve caução anti-globalização, que inclui cenas de tumultos de rua e tudo), e temperada com um "intimismo" psicologizante oriundo da "tragédia pessoal" da personagem de Bardem (a relação com a mulher, doente mental). Tudo é solene e soturno, mas a solenidade e a soturnidade são fabricadas como ornamentos (a fotografia, a música) ou, pior ainda, como "guias de leitura" pré-definidos, a condicionarem (i.e., a manipularem) o modo como o espectador deve olhar para aquilo (em sofrimento, claro: para Iñarritu todo o prazer - inclusive o do espectador - é um interdito). E o espectador sofre, de facto, e sofre bastante. Por exemplo com todas as cenas de "família" e de "intimidade", maçadoras, falhas de imaginação, um suposto naturalismo básico mas totalmente desprovido de energia - Cassavetes, se ressuscitasse, arrependia-se de alguma vez ter feito "Faces", o filme que deu a impressão que isto era fácil de fazer.

E Javier Bardem, no meio disto? Bardem é um óptimo actor e os actores como ele nunca perdem completamente a dignidade; mas sejamos francos, é o Bardem mais bovino e esbugalhado que alguém alguma vez filmou, e o pior é que é só disso que Iñarritu está à procura. Complicar para quê, se basta que pareça complicado - este é que o verdadeiro mote do cinema de Iñarritu, que vale tanto para "Biutiful" como valia para o "Amor Cão".