Serralves presta hoje homenagem a Fernando Pernes

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Os Críticos (1971), de Nikias Skapinakis, actualmente n'A Brasileira Foto: DR

A homenagem que Serralves vai prestar hoje à noite a Fernando Pernes (1935-2010) poderia ter como elemento cénico, no auditório do museu portuense, uma reprodução do quadro Os Críticos (1971), de autoria de Nikias Skapinakis, que actualmente se encontra no café A Brasileira, em Lisboa. É que na mesa dos convidados a testemunhar sobre a figura do que foi o primeiro director artístico de Serralves, desaparecido em Outubro do ano passado, estarão aquele pintor e outro dos representados nesse quadro, Rui Mário Gonçalves, historiador e crítico de arte. E também Raquel Henriques da Silva e Lúcia Matos, igualmente historiadoras de arte e professoras, e Manuela de Melo, ex-deputada e ex-vereadora da Cultura da Câmara do Porto.

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A homenagem que Serralves vai prestar hoje à noite a Fernando Pernes (1935-2010) poderia ter como elemento cénico, no auditório do museu portuense, uma reprodução do quadro Os Críticos (1971), de autoria de Nikias Skapinakis, que actualmente se encontra no café A Brasileira, em Lisboa. É que na mesa dos convidados a testemunhar sobre a figura do que foi o primeiro director artístico de Serralves, desaparecido em Outubro do ano passado, estarão aquele pintor e outro dos representados nesse quadro, Rui Mário Gonçalves, historiador e crítico de arte. E também Raquel Henriques da Silva e Lúcia Matos, igualmente historiadoras de arte e professoras, e Manuela de Melo, ex-deputada e ex-vereadora da Cultura da Câmara do Porto.

Rui Mário Gonçalves não vai, certamente, deixar de recordar as tertúlias que nesse início da década de 1970 o ligaram a Pernes e a Skapinakis, mas também a José-Augusto França e ao pintor Francisco Bronze - os outros críticos do quadro. "O Nikias Skapinakis decidiu pintar o nosso grupo para substituir a tela do Almada [Negreiros - Auto-retrato com grupo da Brasileira (1925) -] que estava n"A Brasileira do Chiado. E quis fazê-lo mantendo a mesma composição do Almada e substituindo apenas as caras", diz o crítico. "Estamos todos vestidos de preto, parece que com boa fazenda, até um pouco chic. Alguns, depois, disseram que estamos assim porque tínhamos todos o mesmo pensamento sobre a arte. Não é verdade, cada um de nós tinha o seu ponto de vista, mas havia era uma grande camaradagem", acrescenta Rui Mário Gonçalves.

De Fernando Pernes, e para além da amizade pessoal, Gonçalves guarda a memória de alguém que "se dava inteiramente à pintura e ao trabalho dos artistas seus amigos, e que gostava de os ajudar". "O grande prazer dele era inventar prémios para atribuir aos artistas", acrescenta, lembrando, por exemplo, o Prémio Soquil (Sociedade Química Industrial), que Pernes criou no âmbito da acção da Associação Internacional dos Críticos de Arte (AICA) e que existiu entre 1968-73 - e cujos destinatários, curiosamente, estão praticamente todos representados nas paredes d"A Brasileira.

Sobre a actividade de Pernes em Lisboa, sua cidade natal e onde ficou até ir viver para o Porto, Rui Mário Gonçalves realça, para além da acção à frente da Sociedade Nacional de Belas-Artes (SNBA), a actividade crítica e a realização de cursos de arte e de exposições. Entre estas está a que revelou Paula Rego na sua primeira exposição individual, em 1965, na Galeria de Arte Moderna então criada na SNBA - "apesar de a pintora já ter exposto trabalhos seus no início da década, na Gulbenkian", acrescenta o crítico, notando que também Noronha da Costa deve a divulgação da sua obra a Pernes. "Era um homem muito atento, sempre actualizado com o que se fazia, e que aderia com simpatia, e entusiasmava-se por aquilo de que gostava", acrescenta o historiador da arte, que reclama a publicação em livro da recolha dos seus artigos críticos. "Ele nunca se interessou por isso, porque era muito desprendido e dizia sempre que tinha tempo"...

Quando em 1973 decidiu radicar-se no Porto, Fernando Pernes passou a dirigir a página de artes do Jornal de Notícias e, logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, iniciou um porfiado trabalho de programação e divulgação das artes, principalmente a partir do Centro de Arte Contemporânea do Norte, que criou no Museu Nacional de Soares dos Reis, ajudando esta velha instituição a abrir-se para um público novo. Começaria aqui um longo processo que viria desembocar na criação do Museu de Arte Contemporânea de Serralves (MACS), e que é a obra mais reconhecida da actividade de Fernando Pernes - e aquela que mais directamente justifica a homenagem que hoje aí tem lugar.

Manuela de Melo conheceu-o no 25 de Novembro de 1975, quando era jornalista na RTP-Porto, e Pernes o director de programas. "Foi ele que me passou o comunicado de apelo à calma pública, para eu ler em antena", recorda a então jornalista, que estava de serviço nesse dia em que um golpe militar pôs fim ao PREC [Processo Revolucionário Em Curso]. A ex-vereadora da Câmara do Porto acompanhou depois a actividade de Pernes na cidade. "Não o conheci com muita proximidade, mas ele tinha uma boa educação a todo o preço. Era uma figura infinitamente afável, de uma determinação enorme e um exemplo notável de coragem", recorda Manuela de Melo, citando o seu trabalho pelo Museu de Serralves, que desenvolveu quase como "uma obsessão".

Na sessão desta noite, que começa às 21h30, vai ainda participar a Oficina Musical, formação fundada e dirigida pelo maestro e compositor Álvaro Salazar e que foi presença regular na agenda musical da Casa de Serralves, desde a sua abertura ao público em 1989. A Oficina Musical vai interpretar peças do próprio Álvaro Salazar (Intermezzo IVA A, 1993), de Bach (Chacone, da Partita nº 2 em Ré menor, 1720) e João Pedro Oliveira (Entre o ar e a perfeição, 2009). A entrada na sessão é gratuita, mas os bilhetes devem ser levantados na recepção do MACS.