Ainda é possível salvar o tigre da extinção com criação de corredores ecológicos
Reservas naturais isoladas não resolverão o problema do tigre (Panthera tigris) na Ásia, que passou de uma população de cem mil indivíduos, em 1900, para uma de 3600. Um estudo publicado ontem na revista PNAS (“Proceedings of National Academy of Sciences”) defende um trabalho ao nível da paisagem, que ultrapasse as fronteiras das reservas naturais.
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Reservas naturais isoladas não resolverão o problema do tigre (Panthera tigris) na Ásia, que passou de uma população de cem mil indivíduos, em 1900, para uma de 3600. Um estudo publicado ontem na revista PNAS (“Proceedings of National Academy of Sciences”) defende um trabalho ao nível da paisagem, que ultrapasse as fronteiras das reservas naturais.
A criação de corredores ecológicos entre aquelas áreas protegidas permitirá aumentar a população de tigres para mais de dez mil animais, um número três vezes maior do que o actual, dizem os investigadores que fizeram a primeira avaliação à viabilidade do acordo político. A Declaração de São Petersburgo, assinada a 24 de Novembro, comprometeu 13 países a duplicar o número de tigres na Ásia até 2022.
As reservas identificadas “representam habitat suficiente para suportar uma duplicação – ou mesmo uma triplicação – da população de tigres”, dizem os autores da investigação.
De acordo com o estudo - que inclui peritos dos Estados Unidos, Nepal, Índia, Rússia, China, Butão, Malásia, Tailândia, Bangladesh e Camboja -, existem 324 reservas dentro das grandes Paisagens de Conservação do Tigre – que incluem savanas, florestas e estepes – e abrangem 380 mil quilómetros quadrados. Baseados nas densidades potenciais destas reservas, os investigadores concluíram que estas áreas poderão suportar mais de 15 mil tigres, incluindo cinco mil fêmeas reprodutoras. Deste total, 169 reservas são consideradas prioritárias. Estas cobrem 69 por cento do território do tigre e podem suportar 10.500 animais, incluindo 3400 fêmeas reprodutoras.
“No meio de uma crise, a tentação entre os conservacionistas é vedar áreas e proteger o que for possível, estratégia que muitas vezes se limita a um conjunto de parques e reservas”, comenta Eric Dinerstein, investigador principal na organização WWF e um dos co-autores do estudo. “Mas concentrarmo-nos nestes locais isolados” e “negligenciar corredores numa região com rápida perda de habitat não vai garantir a sobrevivência da espécie. Apesar de ser importante proteger os habitats cruciais, um programa de recuperação do tigre com sucesso precisa de ser mais ambicioso”, acrescentou. Além disso, a ligação de reservas diminui o problema da consanguinidade e aumenta a variabilidade genética entre sub-populações, porque possibilita a dispersão de animais.
Segundo a WWF, no Nepal, o número de tigres diminuiu drasticamente por causa dos conflitos civis entre 2002 e 2006. “Contudo, os tigres não desapareceram porque as reservas naturais no Nepal e Índia estão ligadas por corredores florestais”, lembrou a organização em comunicado.
Além da caça ilegal e da perda de habitat, a construção de estradas, barragens e exploração de minas um pouco por toda a Ásia têm ameaçado o habitat dos tigres, salienta a WWF. “Se nos concentrarmos só nas áreas protegidas, os promotores destes projectos podem ver isso como uma luz verde para fazerem o que quiserem fora desses locais cruciais”, acrescentou a organização.