Presidente tunisino abandona o país
"Uma vez que o Presidente está temporariamente incapacitado de exercer as suas funções, foi decidido que o primeiro-ministro vai exercer temporariamente os deveres presidenciais", disse Mohamed Ghannouchi numa intervenção transmitida em directo nas televisões do país.
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"Uma vez que o Presidente está temporariamente incapacitado de exercer as suas funções, foi decidido que o primeiro-ministro vai exercer temporariamente os deveres presidenciais", disse Mohamed Ghannouchi numa intervenção transmitida em directo nas televisões do país.
Ben Ali chegou ao poder em 1987, quando era primeiro-ministro. Orquestrou então um golpe de Estado sem sangue contra o primeiro Presidente desde a independência, Habib Bourguiba.
O Exército tunisino assumira pouco antes o controlo do aeroporto internacional de Tunes, ao mesmo tempo que encerrou o espaço aéreo. Foi decretado o estado de emergência em todo o país.
"A polícia e o Exército estão autorizados a disparar contra qualquer pessoa suspeita de não obedecer a ordens ou que tenha fugido", diz o comunicado do Governo publicado pela agência de notícias oficial TAP. Passa a ser proibido "a mais de três pessoas juntarem-se na via pública", acrescenta o texto.
E o recolher obrigatório, que já tinha sido imposto em Tunes, vigora agora em todo o país entre as cinco da tarde e as sete da manhã.
Os principais partidos da oposição, legais e proibidos, pediram entretanto numa declaração conjunta publicada em Paris "a partida de Ben Ali e a instauração de um governo provisório encarregado de organizar eleições nos próximos seis meses". Assinam este texto, entre outros, o Congresso para a República, o Partido Comunista Operário, o movimento islamista moderado Ennahdha, o Comité para o Respeito das Liberdades e Direitos Humanos e o histórico Partido Democrático Progressista (legal, mas sem representação parlamentar).
Estes anúncios surgem pouco depois de o Presidente Ben Ali ter anunciado a demissão do seu Governo e o objectivo de marcar eleições legislativas antecipadas num prazo de seis meses. Esta intervenção, por seu turno, seguiu-se aos protestos que reuniram um número sem precedentes de pessoas no centro de Tunes para exigir a partida de Ben Ali.
Ouviram-se tiros e a polícia dispersou a multidão com granadas de gás lacrimogéneo. Um fotógrafo da agência europeia EPA foi atingido por uma granada. Trata-se do francês Lucas Mebrouk, de 32 anos.
Blindados do Exército posicionaram-se rapidamente diante do Ministério do Interior, onde os manifestantes se concentraram, mas também em frente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros e ao edifício onde funcionam a rádio e a televisão públicas.
Unidades da polícia anti-motim perseguiram alguns dos jovens manifestantes que fugiam para o interior de prédios de habitação na zona e que também se refugiaram num centro comercial.
Ben Ali falara aos tunisinos na quinta-feira à noite para anunciar que não se recandidata em 2014 e prometer reformas democráticas e o fim da censura. Disse também que as forças de segurança não disparariam nem mais uma bala contra os manifestantes que desde meados de Dezembro enchem diariamente as ruas de várias cidades com gritos contra o desemprego e o regime. Palavras que não foram suficientes para muitos tunisinos, que queriam ver Ben Ali partir de imediato.
Até quinta-feira morreram pelo menos 67 pessoas, nas contas da Federação Internacional das Ligas de Direitos Humanos. Confrontos entre manifestantes e a polícia já depois do discurso de fizeram pelo menos mais 12 mortos.
Notícia actualizada às 17h30