Consórcio português desenvolve novas malas "inteligentes" para viagens de avião
É costume o trajecto terminar com um suspiro de alívio, na grande maioria das vezes, mas também pode acontecer aterrarmos no Rio de Janeiro tendo como único vestuário, durante vários dias, umas botas, umas calças de Inverno e uma grossa camisola de lã.
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É costume o trajecto terminar com um suspiro de alívio, na grande maioria das vezes, mas também pode acontecer aterrarmos no Rio de Janeiro tendo como único vestuário, durante vários dias, umas botas, umas calças de Inverno e uma grossa camisola de lã.
O projecto Mala Segura, lançado em Setembro 2008 por um consórcio português do qual fazem parte quatro empresas e dois centros de investigação e desenvolvimento, nasceu com o objectivo de encontrar uma solução diferente para o grave problema das perdas e trocas de bagagens, que todos os anos obriga as companhias aéreas a pagarem indemnizações de milhares de milhões de euros.
Em causa está uma nova forma de utilizar a tecnologia RFID (identificação por radiofrequência) nos aeroportos, e também as tecnologias de WSN e GPS/GSM. As tags (etiquetas) de RFID guardam muitos dados de informação que depois podem ser lidos à distância.
Em conjunto, a ANA - Aeroportos de Portugal, a SETSA - Sociedade de Engenharia e Transformação, SA, a Critical Software e a Tecmic - Tecnologias de Microelectrónica, mais o PIEP-Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros e o Inov - Inesc Inovação investiram um total de 2,46 milhões de euros, dos quais 1,6 milhões comparticipados pela União Europeia.
À procura de parceirosA segunda e última demonstração dos estudos e investigações que foram feitos, que marca também um ponto final no projecto Mala Segura, está agendada já para o próximo mês no Porto, no Aeroporto Sá Carneiro.
E para que é que serviram mais de dois anos de investigação e desenvolvimento? Na prática, os membros do consórcio desenvolveram uma forma inovadora de se embutir numa mala de bagagens rígida, no interior do próprio material dessa mala e no momento de fabrico, uma pequena etiqueta RFID que teve de ser adaptada para esse efeito, explicou ao PÚBLICO Bruno Pereira da Silva, membro da comissão executiva do consórcio.
"Foi necessário desenvolver um processo para que a tag de RFID não fosse danificada [quando é embutida nas malas], sob as altas temperaturas e pressões que fazem parte do fabrico destes produtos", indicou o mesmo responsável. Os estudos envolveram, por isso, "todo o processo tecnológico de produção, com os robots [de fábrica] a colocarem a tag, a tirarem, a injectarem os materiais... (plásticos e afins)". Mas não só. Outro desafio que conseguiram vencer foi o desenho desta etiqueta num formato inovador, que permite uma melhor leitura dos dados de informação que ali ficam guardados - o que torna, aliás, possível comercializar esta nova aplicação à parte, mesmo para malas em tecido, sublinha Bruno Pereira da Silva. Isso e também um sistema próprio de software, desenvolvido para os aeroportos gerirem e controlarem a informação destes novos tipos de malas de passageiros. Não admira, pois, que já tenha dado entrada um processo de patente para o produto final do Mala Segura. É que o próximo passo, se houver vontade e condições de mercado, poderá ser conseguir ter um parceiro industrial para o fabrico destas "malas inteligentes" e lançá-las no mercado. Pereira da Silva prefere ser muito cauteloso quando é questionado sobre o futuro, mas admite que a Samsonite pode ser uma hipótese, uma vez que tem sido consultora técnica (adviser) em todo o processo.
Outra grande ajuda para um eventual lançamento no mercado pode vir da IATA, associação internacional que representa a nível mundial as companhias aéreas, e que tem sido também adviser.
Contas feitas, indica o também gestor de projecto do PIEP, os aeroportos e as companhias aéreas teriam muito a ganhar com a generalização destas malas.
Hoje em dia, os aeroportos que já utilizam a tecnologia RFID anexam manualmente essas etiquetas a cada uma das bagagens, investindo cerca de 10 cêntimos por passageiro que depois reflectem nas taxas cobradas às companhias aéreas. No entanto, se as bagagens passam a ter elas próprias o seu dispositivo RFID incorporado, esse custo pode passar para os passageiros, quando compram as suas malas. Isso tornaria também mais fácil a generalização desta tecnologia.
Mais para a frente, uma vez que também o sistema GPS/GSM ficou validado no âmbito deste projecto, poderão abrir-se modelos de negócio ligados a outros meios de transporte, como o comboio de longa distância, acredita o representante do consórcio.
Não é difícil imaginar, aliás, o dia em que poderemos controlar onde andam as nossas malas e se já entraram ou não no avião ou no comboio através de uma simples aplicação de telemóvel...