Ban Ki-moon foi autorizado a enviar mais tropas para a Costa do Marfim

Foto
Secretário-geral da ONU pode ter de tomar uma decisão perigosa Susana Vera/REUTERS

Independentemente de ter rejeitado a indicação do Presidente cessante Laurent Gbagbo de que a Operação das Nações Unidas na Costa do Marfim (ONUCI) deveria cessar, ao expirar agora o seu mandato, o Conselho prorrogou-a ontem por seis meses e admitiu mesmo aumentar os seus efectivos, que actualmente se cifram na ordem dos 8.450 homens.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Independentemente de ter rejeitado a indicação do Presidente cessante Laurent Gbagbo de que a Operação das Nações Unidas na Costa do Marfim (ONUCI) deveria cessar, ao expirar agora o seu mandato, o Conselho prorrogou-a ontem por seis meses e admitiu mesmo aumentar os seus efectivos, que actualmente se cifram na ordem dos 8.450 homens.

O chefe das operações da ONU para a manutenção da paz, Alain Le Roy, reconheceu o risco de um confronto “perigoso” com os que apoiam Gbagbo: tanto as Forças de Defesa e Segurança (FDS) como os Jovens Patriotas, de Charles Blé Goudé, ministro da Juventude no Governo nomeado pelo Presidente cessante, e ainda alegados mercenários estrangeiros ultimamente detectados no país.

“A ONUCI já conseguiu verificar que entre os elementos que trabalham com o campo Gbagbo há alguns mercenários, dezenas”, afirmou o diplomata francês Le Roy.

Os partidários do Presidente eleito Alassane Ouattara já vinham a dizer há semanas que o seu rival estava a utilizar milícias da vizinha Libéria, para a qual têm estado entretanto a fugir milhares de pessoas assustadas com o especto de um claro regresso à guerra civil que a partir de 2002 deixou o país dividido entre um Norte predominantemente muçulmano e um Sul cristão.

Ouattara escreveu domingo à noite a Ban Ki-moon a solicitar-lhe a renovação do mandato da operação, que expirava agora no fim de Dezembro. Estados Unidos, Canadá, ONU e Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) entendem que, de direito, a Costa do Marfim tem agora um novo Presidente, eleito pela maioria da população.

O ministro do Interior do Governo designado por Gbagbo, Emile Guirieoulou, afirmou porém que não haverá qualquer cooperação com a ONUCI, por ela se manter no país contra o que lhe foi dito pelo Presidente cessante.

ONU "parte da rebelião"

"Se escolhem terem autoridades que não são as legais, tornam-se parte da rebelião", disse o ministro, que desmentiu as notícias de que teria sido encontrada uma vala comum na cidade de Abidjan.

Laurent Gbagbo poderá jogar a política do “quanto pior melhor”, escreve hoje o site online da revista francesa “Jeune Afrique”, depois de um especialista português em questões da África Ocidental, Eduardo Costa Dias, já ter dito ao PÚBLICO que a administração há 10 anos existente na Costa do Marfim “entrou no caminho da perdição total, sem retorno”.

"Nem já negociar o exílio Laurent Gbagho conseguirá. Provavelmente acabará preso, como qualquer salteador de estrada, ou atirado para uma pilha de mortos", afirmou aquele investigador do Centro de Estudos Africanos do ISCTE, de Lisboa.

O antigo Presidente Henri Konan Bédié, que governou de 1993 a 1999, pediu a “aliança” dos militares a Ouattara e exortou Gbagbo a ceder o seu lugar, como “digno filho da África”.

Segundo Bédié, líder do Partido Democrático da Costa do Marfim (PDCI), que de 1960 a 1990 foi o único com existência legal, “nenhuma ambição política justifica o sacrifício inconsiderado de vidas humanas”.

Quanto a um antigo Presidente do Gana, Jerry Rawlings, pediu a todas as partes contenção e maturidade: “A perda de vidas, na sequência de manifestações de rua e do alegado rapto e execução de civis, não deverá derivar para um conflito total”.

Na semana passada, o antigo Presidente senegalês Abou Diouf, agora secretário-geral da Francofonia, dissera que Gbagbo, fundador da Frente Popular Marfinense (FPI), socialista, seria menos avesso ao cenário de uma retirada, com garantias, do que alguns dos falcões que o rodeiam. Entre outros, a sua primeira mulher, Simone, vice-presidente da FPI e líder do respectivo grupo parlamentar.

Em 2005, quando Laurent Gbagbo começou a adiar por uma série de vezes a ida às urnas, a Radio France International chegou a noticiar que Simone estava a ser investigada por abusos dos direitos humanos, entre eles a organização de esquadrões da morte.

A União Europeia decidiu ontem que o casal e mais 17 pessoas a ele associadas deixam de poder receber visto para entrar no espaço comunitário. E idêntica decisão está prestes a ser tomada pelos Estados Unidos.

O secretário de estado nigeriano dos Negócios Estrangeiros, Aliyu Idi Hong, afirmou à BBC que as autoridades federais de Abuja estariam dispostas a conceder asilo na Nigéria a Laurent Gbagbo.

Notícia actualizada às 18h10