Sócrates aprovou em segredo uso do espaço aéreo e da base das Lajes
O diário espanhol cita diversos telegramas diplomáticos enviados pela embaixada dos Estados Unidos em Lisboa ao Departamento do Estado, que constam dos 251 mil documentos filtrados pela organização Wikileaks, sublinhando que esta autorização nunca foi publicamente reconhecida pelas autoridades portuguesas.
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O diário espanhol cita diversos telegramas diplomáticos enviados pela embaixada dos Estados Unidos em Lisboa ao Departamento do Estado, que constam dos 251 mil documentos filtrados pela organização Wikileaks, sublinhando que esta autorização nunca foi publicamente reconhecida pelas autoridades portuguesas.
“Sócrates aceitou permitir o repatriamento de combatentes inimigos de Guantánamo através da base das Lajes”, escreve em telegrama de 7 de Setembro de 2007 o chefe da representação diplomática dos EUA em Lisboa, Alfred Hoffman.
“Foi uma decisão difícil devido às críticas constantes dos meios de comunicação portugueses e de elementos esquerdistas do seu próprio partido à actuação do Governo na controvérsia dos voos da CIA”, explica o diplomata.
Esta nota, segundo o “El País” enviada dez dias antes de uma reunião de George W. Bush com o primeiro-ministro português, refere que a autorização de Sócrates nunca foi tornada pública. No documento, Hoffman chama a atenção de que “o Procurador-Geral da República foi obrigado a analisar uma recompilação de notícias de imprensa e de acusações não provadas facilitadas por um membro do Parlamento Europeu sobre as operações da CIA através de Portugal”.
Aversão a GomesNoutro telegrama, enviado em 11 de Setembro de 2007 para Washington, o embaixador refere a posição do ministro Luís Amado. Alfredo Hoffman assinala que Amado autorizou o repatriamento através das Lajes sob a mesma premissa, “caso a caso em determinadas circunstâncias”. De acordo com o jornal espanhol, já em Setembro de 2006, o embaixador norte-americano relatara uma reunião com o chefe da diplomacia portuguesa sobre os voos de repatriamento de Guantánamo, na qual o ministro se compromete a fazer todos os esforços para conseguir uma cooperação de Portugal, desde que haja transparência total da parte norte-americana. “Senão o fazemos bem pode ser um tremendo fracasso”, escreve Hoffman, citando uma frase de Amado.
Nos telegramas que “El País” hoje publica, o embaixador dos Estados Unidos também refere a actuação da eurodeputada socialista Ana Gomes. Numa nota de Janeiro de 2007, relata uma reunião na embaixada com os deputados José Lello e Paulo Pisco, do PS. “Lello expressou uma clara aversão a Gomes, embora tenha dito que o PS não pensava em expulsá-la porque seria contraproducente para o partido”, escreve Alfred Hoffman. Na nota, o diplomata sublinha que Lello assegurou que os principais líderes do PS, incluindo o primeiro-ministro, “são claramente pró-americanos”, e minimizou a ala esquerda do partido, que qualificou de “alegristas”, numa referência a Manuel Alegre.
Noutro telegrama, também de Janeiro de 2007, e sempre referente a Ana Gomes, o embaixador norte-americano refere um encontro com Jorge Roza de Oliveira, na altura assessor diplomático do primeiro-ministro português. “É uma senhora muito excitada que é pior que um rottweiler solto”, é a frase que Hoffman atribui a Roza de Oliveira, que deixou o cargo de assessor de Sócrates no início deste ano..