Jovens portugueses estão a sair menos à noite e já trocaram a TV pelo computador

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Em casa, os jovens estão à frente da televisão ou do computador Foto: Fernando Veludo/NFactos

Não saem à noite, não fumam, não bebem e começam a vida sexual mais tarde. De manhã, tomam o pequeno-almoço. Na escola não se envolvem em lutas e gostam dos seus professores. Em casa, estão à frente da televisão ou do computador e, talvez por isso, praticam menos exercício físico. Há mais um senão: o consumo de drogas aumentou ligeiramente entre os adolescentes e jovens portugueses dos 6.º, 8.º e 10.º anos.

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Não saem à noite, não fumam, não bebem e começam a vida sexual mais tarde. De manhã, tomam o pequeno-almoço. Na escola não se envolvem em lutas e gostam dos seus professores. Em casa, estão à frente da televisão ou do computador e, talvez por isso, praticam menos exercício físico. Há mais um senão: o consumo de drogas aumentou ligeiramente entre os adolescentes e jovens portugueses dos 6.º, 8.º e 10.º anos.

Estes são os resultados preliminares do estudo coordenado por Margarida Gaspar de Matos para o Health Behaviour in School-aged Children, que é apresentado hoje, em Lisboa. Os resultados finais serão conhecidos em Abril. Trata-se de um estudo colaborativo da Organização Mundial de Saúde (OMS), feito de quatro em quatro anos, com o objectivo de estudar os estilos de vida e os comportamentos adolescentes. Os dados portugueses foram recolhidos para o relatório de 2012, onde se reúne a informação de outros 43 países.

"Há questões que fazem muito barulho [como o bullying] mas que não são universais. Há realidades que são só da nossa rua", justifica Margarida Gaspar de Matos. Por isso, apesar da crise económica, "cada vez há menos miséria cultural e económica em Portugal". "Há nichos preocupantes mas residuais, pelo menos no modo como os alunos percebem e nos relatam os factos", aponta a professora da Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade Técnica de Lisboa.

Maioria não tem relações

Segundo o inquérito feito a cinco mil jovens de 136 escolas públicas (as mesmas desde 1998), os pais também melhoraram a sua escolaridade. Aí pode estar um factor para a melhoria da situação, continua. Mais: a maioria dos adolescentes que constituem a amostra é de nacionalidade portuguesa. Há quatro anos, a maioria dos pais tinha o 1.º ciclo; actualmente, têm o 2.º ou o 3.º e têm também profissões mais qualificadas. Esta alteração pode dever-se à iniciativa Novas Oportunidades. "É uma mudança fantástica porque a escolaridade da mãe é o melhor preditor de saúde pública. Uma mãe escolarizada mexe-se melhor no sistema de saúde e no da educação", revela.

Um quinto dos rapazes afirma já ter tido relações sexuais. No conjunto das raparigas e dos rapazes, a maioria (83,1 por cento) diz nunca ter tido relações sexuais. Em inquérito feito apenas aos alunos do 10.º ano que referiram já ter iniciado a sua vida sexual, oito em cada dez respondem que iniciaram aos 14 anos ou mais. Nove por cento dos rapazes respondem que iniciaram aos 11 anos ou menos, contra dois por cento das raparigas.

Quem já começou a sua vida sexual não teve relações associadas ao consumo de álcool ou de drogas (87,3 por cento). As raparigas usam mais frequentemente o preservativo (96,2, mais quatro por cento do que os rapazes) e a pílula é usada por 37,5 por cento das inquiridas. A maioria não usou espermicidas ou o coito interrompido na primeira relação. Na verdade, 85,1 por cento nem sabem que método usaram. Sobre quem decide, metade dos inquiridos dos 8.º e 10.º anos responde que é o casal.

Porque é que iniciaram a sua vida sexual? Metade responde que queria experimentar, 47 por cento estava "muito apaixonado/a", 28 "já namoram há muito tempo", 18 por cento confessam que "aconteceu por acaso" e 13 por cento respondem que não queriam que o "parceiro ficasse zangado".

Seis em cada dez não saem à noite com os amigos. O consumo de tabaco e de álcool diminuiu em quatro anos - um quinto dos jovens responde que já se embriagou uma ou três vezes -, mas a experimentação de drogas aumentou umas décimas. Gaspar de Matos não sabe o que é que estes dados significam.

Em casa, os adolescentes vêem muita televisão, embora menos do que em 2006 - na altura, 35,8 por cento viam mais de quatro horas diárias, durante a semana, contra 25,2 este ano. Mas passam mais horas ao computador - há quatro anos, 29,5 respondiam que nunca o usavam durante a semana; agora são apenas 12 por cento.

Sete em cada dez não se envolveram em lutas no último ano e gostam da escola, 80 por cento gostam de estar com os colegas e 85 por cento consideram que os professores têm uma boa percepção das suas capacidades académicas. Em média, os inquiridos que participaram no estudo têm 14 anos, pesam 53,4 quilos e medem 1,61 metros. A maioria - sobretudo os rapazes - está satisfeita com o seu corpo.

Inquéritos foram alargados a alunos do superior

Os rapazes aventuram-se mais do que as raparigas, que são mais cuidadosas sobre a sua vida sexual. Eles começam a ter relações sexuais mais cedo e assumem mais comportamentos de risco; elas são mais preocupadas. Pela primeira vez, a equipa de Margarida Gaspar de Matos alargou o estudo ao ensino superior. São as raparigas que têm mais conhecimentos relativamente aos riscos do VIH/sida. Os rapazes respondem com mais frequência "não sabe".

Elas têm uma atitude mais positiva do que eles. Por exemplo, se a esmagadora maioria das raparigas responde que "a contracepção faz parte de uma sexualidade responsável", a maioria dos rapazes considera que "o sexo é uma parte muito importante da vida". À afirmação "sinto-me melhor comigo próprio quando uso métodos contraceptivos", 78 por cento das raparigas dizem que sim - mais 14 por cento que os rapazes.

Oito em cada dez iniciaram a vida sexual a partir dos 16 anos, eles mais cedo do que elas. Quatro em cada dez dizem ter uma relação amorosa há mais de dois anos e 84 por cento têm relações sexuais. Responderam 3278 alunos, com uma média de idades de 21 anos. O estudo foi financiado pelo Alto-Comissariado da Saúde.