"Havia várias visões do partido e a de Sá Carneiro foi a que prevaleceu"
"O partido estava em construção e numa indefinição. Não havia um partido, havia várias visões do partido e houve uma que prevaleceu, a de Sá Carneiro, que esteve na origem da AD, do aparecimento de Cavaco Silva a seguir ao Bloco Central e está na génese do que hoje é o PSD", afirmou o líder social-democrata.
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"O partido estava em construção e numa indefinição. Não havia um partido, havia várias visões do partido e houve uma que prevaleceu, a de Sá Carneiro, que esteve na origem da AD, do aparecimento de Cavaco Silva a seguir ao Bloco Central e está na génese do que hoje é o PSD", afirmou o líder social-democrata.
Para Passos Coelho, o que mudou em 30 anos foi o PSD "ter hoje uma di- mensão de partido de poder que não tinha naquela altura, apesar de ter sido Sá Carneiro quem levou pela primeira vez o PSD ao Governo".
A discussão sobre o legado histórico do fundador do PSD no partido ficou marcada com a recente publicação, por José Miguel Júdice, do livro O Meu Sá Carneiro - Reflexões sobre o seu pensamento político. O advogado e apoiante da candidatura presidencial de Cavaco Silva defende que o cavaquismo destruiu a herança de Sá Carneiro, aumentando "o peso do Estado e não permitindo a libertação da sociedade civil, como Sá Carneiro sempre defendera".
Lembrando que o partido se tornou "mais institucional", Passos Coelho defende que, desde Sá Carneiro, o partido mudou do ponto de vista ideológico, com o aparecimento do neoliberalismo e da consequente defesa de um menor papel do Estado.
"Ele acreditava mais na necessidade da intervenção do Estado do que nós, porque aconteceram 30 anos de história em que o Estado falhou. Entretanto veio a contra-revolução chamada neoliberal, movimento que ele já apanha quando é primeiro-ministro", diz Passos Coelho. O partido, no entanto, define-se por ter sido sempre um espaço de confluência de "correntes mais conservadoras ou mais progressistas, que alinnham mais do lado civil do que do lado estatista da política", diz.
Sá Carneiro afirmou-se como so- cial-democrata em 1972, mas lutou contra a influência do Estado na eco- nomia, tal como esta existiu a partir do período revolucionário de 1974-1975, um modelo socialista que defendia a irreversibilidade das nacionalizações.
O eurodeputado e ex-candidato à liderança do PSD Paulo Rangel destaca duas marcas que Sá Carneiro deixou no partido: o primado da política e o reformismo. A primeira diluiu-se, a segunda permanece importante.
"Esta marca [o primado da política], que está na essência do PSD, foi-se perdendo em razão de uma cedência gradual e paulatina ao pra- gmatismo tecnocrático", defende Pau- lo Rangel, em declarações ao PÚBLICO por correio electrónico. Mas Rangel não cola Cavaco ao rótulo tecnocrático. "O cavaquismo é um tempo por excelência, deste reformismo", afirma, acrescentando que "o reformismo sá-carneirista é talvez a marca genética do PSD que mais viva se conserva". Rangel lembra ainda o papel de Sá Carneiro como um fundador do regime, nomeadamente com a vitória da AD em 1979, "que exorciza o fantasma das maiorias absolutas e legitima a plena cidadania dos partidos do centro e da direita num regime nascido à esquerda".