EUA pressionaram China a impedir passagem de material norte-coreano
O “Guardian” (um dos jornais que tem publicado os documentos do Wikileaks) refere, por exemplo, que há três anos Washington pressionou a China a agir com “urgência” para deter este tipo de transferências, de acordo com documentos diplomáticos norte-americanos.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O “Guardian” (um dos jornais que tem publicado os documentos do Wikileaks) refere, por exemplo, que há três anos Washington pressionou a China a agir com “urgência” para deter este tipo de transferências, de acordo com documentos diplomáticos norte-americanos.
Os EUA já tinham manifestado publicamente a sua preocupação de que a Coreia do Norte se pudesse transformar num exportador de material para armas nucleares, incluindo para o arsenal iraniano, salienta a Reuters. Mas agora sabe-se que o território chinês pode ter tido um papel importante nestas exportações.
A comunicação interna citada aconteceu a 3 de Novembro de 2007 e era assinada pela então secretária de Estado Condoleezza Rice. Nela se dizia que uma carga de turbinas de jactos mísseis destinada ao Grupo Industrial Shahid Bagheri, que gere o programa iraniano de mísseis balísticos, estaria para ser enviada para o Irão a partir de Pequim no dia seguinte, a bordo de um voo iraniano.
Rice deu instruções ao seu embaixador em Pequim para que levantasse a questão “assim que possível” e “ao mais alto nível possível” para convencer as autoridades chinesas a impedirem a entrega.
O Departamento de Estado, dizia Rice, “quer uma acção imediata... e uma abordagem estratégica em relação a este assunto crítico”, cita o “Guardian”. “Exigimos uma resposta firme da China... Consideramos que a melhor forma de impedir estes carregamentos no futuro é as autoridades chinesas agirem... para que o aeroporto de Pequim seja um ponto de transferência menos hospitaleiro”.
Um outro documento mostra que a actual chefe da diplomacia norte-americana, Hillary Clinton, manifestava em Maio do ano passado preocupações de que exportações de empresas chinesas “pudessem ser usadas ou desviadas para um programa CW” (“chemical weapons”, armas químicas). A secretária de Estado interroga se as alegadas transferências são do conhecimento do Governo chinês e avisa que poderão ser impostas sanções. “Pedimos que o Governo chinês tome todas as medidas necessárias para investigar esta questão e impedir o Irão de adquirir o equipamento e tecnologia de dupla funcionalidade que possa ser usado no seu programa CW”, afirma.
As preocupações americanas, adianta o diário, é que os mísseis balísticos iranianos de curto e médio alcance possam ser usados para transportar uma ogiva nuclear.
Terão sido vários os momentos em que Washington partilhou estas inquietações com Pequim. Pelo menos dez vezes denunciou a passagem pela China de carregamentos norte-coreanos de componentes de mísseis balísticos destinados ao Irão.
Outros documentos publicados pelo “New York Times” davam conta de conversas entre responsáveis da Coreia do Sul e dos EUA sobre as perspectivas de uma Coreia unificada, caso a situação económica norte-coreana e a transição política levasse ao colapso do regime.
Estas revelações estão entre os 250 mil documentos entregues pelo site Wikileaks a um conjunto de jornais, os quais revelam, entre muitos outros aspectos, que a China desenvolveu uma acção de sabotagem de computadores tendo por alvo os Estados Unidos e os seus aliados.
A informação diz respeito a três anos de diplomacia norte-americana - que incidem principalmente sobre o período final da Presidência de George W. Bush e o inicial de Barack Obama, e vão até Fevereiro deste ano.