Josephine Foster e as canções de García Lorca

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Josephine Foster será acompanhada na minidigressão portuguesa pela granadina Vitor Herrero Band

Josephine Foster, a americana, não tem um lugar específico no mundo. Mulher andarilha, viajou pelos Estados Unidos onde nasceu, saltou o Atlântico até Sevilha e seguiu de Sevilha até Granada, onde vive hoje. Josephine Foster, a guitarrista, a harpista, a cantora de voz admirável onde a sabedoria da formação clássica se conjuga a uma intuição mais profunda, cria música que tem sido, também ela, saltimbanca entre fascínios e arrebatamentos - a folk americana de Hazel Eyes, I Will Lead You, o romantismo alemão em A Wolf In Sheep"s Clothing, o psicadelismo da década de 1960 revisto em All The Leaves Are Gone, a poesia de Emily Dickinson como inspiração para Graphic as a Star, editado já este ano.

Hoje, quando vive nessa Granada igual a nenhuma outra cidade, onde lendas antigas e os tantos povos que a habitam e habitaram são ainda marca do presente, chegou a este fascínio: Federico García Lorca, poeta, escritor e dramaturgo, um dos filhos predilectos da cidade de árabes e cristãos, dos mistérios da Alhambra, do flamenco e da poesia.

Foster editou recentemente Anda Jaleo com a granadina Vitor Herrero Band, e será com base no disco e com o acompanhamento daquele grupo que nos desvendará o seu Lorca, nas três datas de uma minidigressão portuguesa. Esta noite estará na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, com primeira parte do duo drone folk Barn Owl (22h, 8?). Amanhã, sobe ao Centro Cultural de Ílhavo (22h, 10?) e, no sábado, ao Teatro Municipal de Vila do Conde (21h30, 15?).

Em 1931, cinco anos antes da morte às mãos das tropas franquistas, García Lorca gravou com a cantora, bailarina e coreógrafa La Argentinita (nascida na Argentina, mas filha de emigrantes espanhóis) uma série de discos intitulados Colección de Canciones Populares Españolas.

García Lorca, na arte que primeiro abraçou, a música, compôs os arranjos, tocou o piano e introduziu versos seus às letras originais. Entre canções de embalar sevilhanas e histórias de contrabandistas, ora melancólico crepuscular, ora celebratório, Colección... era uma homenagem ao espírito e à tradição dos povos de Espanha - com particular destaque para a Andaluzia, tão marcante em todo o percurso artístico do autor de Romancero Gitano.

Sete décadas depois, esse património caiu nas mãos de uma americana nascida no Colorado e não devemos temer uma aculturação descaracterizadora. Josephine Foster, a belíssima Josephine Foster, é melhor que isso.

Há dois anos, na sua última passagem por Portugal, explicou-nos porque decidira mudar-se para uma pequena quinta nos arredores de Granada. "Quis viver num sítio onde pudesse estar algum tempo em isolamento, fora da cidade e sem outro ruído além do dos pássaros e o do vento o dia todo. Conseguir encontrá-lo e conseguir viver aqui é uma sorte." O seu país é aquele: "O ruído dos pássaros e do vento." Em Granada, o vento trouxe-lhe Lorca e ele é agora a sua música. Que é tocante, que é força viva e mistério ancestral. Anda Jaleo: o encontro entre um poeta músico andaluz e uma música poeta, americana sem terra. Uma preciosidade.

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Josephine Foster, a americana, não tem um lugar específico no mundo. Mulher andarilha, viajou pelos Estados Unidos onde nasceu, saltou o Atlântico até Sevilha e seguiu de Sevilha até Granada, onde vive hoje. Josephine Foster, a guitarrista, a harpista, a cantora de voz admirável onde a sabedoria da formação clássica se conjuga a uma intuição mais profunda, cria música que tem sido, também ela, saltimbanca entre fascínios e arrebatamentos - a folk americana de Hazel Eyes, I Will Lead You, o romantismo alemão em A Wolf In Sheep"s Clothing, o psicadelismo da década de 1960 revisto em All The Leaves Are Gone, a poesia de Emily Dickinson como inspiração para Graphic as a Star, editado já este ano.

Hoje, quando vive nessa Granada igual a nenhuma outra cidade, onde lendas antigas e os tantos povos que a habitam e habitaram são ainda marca do presente, chegou a este fascínio: Federico García Lorca, poeta, escritor e dramaturgo, um dos filhos predilectos da cidade de árabes e cristãos, dos mistérios da Alhambra, do flamenco e da poesia.

Foster editou recentemente Anda Jaleo com a granadina Vitor Herrero Band, e será com base no disco e com o acompanhamento daquele grupo que nos desvendará o seu Lorca, nas três datas de uma minidigressão portuguesa. Esta noite estará na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, com primeira parte do duo drone folk Barn Owl (22h, 8?). Amanhã, sobe ao Centro Cultural de Ílhavo (22h, 10?) e, no sábado, ao Teatro Municipal de Vila do Conde (21h30, 15?).

Em 1931, cinco anos antes da morte às mãos das tropas franquistas, García Lorca gravou com a cantora, bailarina e coreógrafa La Argentinita (nascida na Argentina, mas filha de emigrantes espanhóis) uma série de discos intitulados Colección de Canciones Populares Españolas.

García Lorca, na arte que primeiro abraçou, a música, compôs os arranjos, tocou o piano e introduziu versos seus às letras originais. Entre canções de embalar sevilhanas e histórias de contrabandistas, ora melancólico crepuscular, ora celebratório, Colección... era uma homenagem ao espírito e à tradição dos povos de Espanha - com particular destaque para a Andaluzia, tão marcante em todo o percurso artístico do autor de Romancero Gitano.

Sete décadas depois, esse património caiu nas mãos de uma americana nascida no Colorado e não devemos temer uma aculturação descaracterizadora. Josephine Foster, a belíssima Josephine Foster, é melhor que isso.

Há dois anos, na sua última passagem por Portugal, explicou-nos porque decidira mudar-se para uma pequena quinta nos arredores de Granada. "Quis viver num sítio onde pudesse estar algum tempo em isolamento, fora da cidade e sem outro ruído além do dos pássaros e o do vento o dia todo. Conseguir encontrá-lo e conseguir viver aqui é uma sorte." O seu país é aquele: "O ruído dos pássaros e do vento." Em Granada, o vento trouxe-lhe Lorca e ele é agora a sua música. Que é tocante, que é força viva e mistério ancestral. Anda Jaleo: o encontro entre um poeta músico andaluz e uma música poeta, americana sem terra. Uma preciosidade.