José Mestre, o “homem sem rosto” do Rossio, arriscou e tirou o tumor facial

Foto
José Mestre foi sujeito a uma cirurgia inovadora sem recurso a transfusão de sangue Foto: Carlos Lopes

A história de José Mestre, de 53 anos, não é conhecida de todos os que passaram nas últimas duas décadas na praça mais conhecida de Lisboa. Nem sempre os olhares para José foram de compreensão e aceitação. Muitos foram de repugnância e resultaram em piadas impiedosas. O enorme tumor facial que tinha aproximava curiosos que o questionavam sobre de que sofria e lhe perguntavam por que recusava ajuda médica. Aproximava também máquinas fotográficas. "Há uma ou outra pessoa que se interessa pelo meu problema e vem falar comigo, mas a maioria apenas quer tirar fotos e essa falta de respeito magoa-me", confessou José Mestre à agência Lusa, lamentando que houvesse ainda quem lhe pedisse para "tirar a máscara". A sua reacção aos comentários perdeu algumas vezes a racionalidade. Houve alturas em que atirou pedras aos que o achavam uma aberração. E estas reacções trouxeram-lhe a fama de violento, como explicou à Lusa Edite Abreu, uma dos cinco irmãos de José, que vive no Cacém. "O José tem vários processos porque, quando atira pedras, as pessoas vão dizer à polícia que ele é agressivo, mas não contam que o insultam ou lhe tiram fotografias, até com os telemóveis, sem sequer pedir", lamentou.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A história de José Mestre, de 53 anos, não é conhecida de todos os que passaram nas últimas duas décadas na praça mais conhecida de Lisboa. Nem sempre os olhares para José foram de compreensão e aceitação. Muitos foram de repugnância e resultaram em piadas impiedosas. O enorme tumor facial que tinha aproximava curiosos que o questionavam sobre de que sofria e lhe perguntavam por que recusava ajuda médica. Aproximava também máquinas fotográficas. "Há uma ou outra pessoa que se interessa pelo meu problema e vem falar comigo, mas a maioria apenas quer tirar fotos e essa falta de respeito magoa-me", confessou José Mestre à agência Lusa, lamentando que houvesse ainda quem lhe pedisse para "tirar a máscara". A sua reacção aos comentários perdeu algumas vezes a racionalidade. Houve alturas em que atirou pedras aos que o achavam uma aberração. E estas reacções trouxeram-lhe a fama de violento, como explicou à Lusa Edite Abreu, uma dos cinco irmãos de José, que vive no Cacém. "O José tem vários processos porque, quando atira pedras, as pessoas vão dizer à polícia que ele é agressivo, mas não contam que o insultam ou lhe tiram fotografias, até com os telemóveis, sem sequer pedir", lamentou.

Nos últimos meses, José desapareceu do local onde habitualmente se sentava no Rossio, perto do café “Nicola”. Porquê? Em Maio de 2008, o canal Discovery começou a produzir o documentário "O meu nome é José". Foi na praça onde se sentou durante mais de 20 anos que se mostrou uma pequena parte desse trabalho. Mais de dois anos depois, o canal Discovery lançou um programa intitulado "My Shocking Story" (“A minha história chocante”) e a história de José Mestre é uma das contadas.

Desde que o canal Discovery pegou na história do menino que começou por ter borbulhas, depois uma enorme mancha que se transformou num tumor, a vida de José mudou. O canal propôs-se a ajudar o português, que já tinha sido submetido a cirurgias aos 14 e aos 18 anos, para tentar conter a progressão da doença, mas sem sucesso. José chegou a ser observado por médicos no Reino Unido, Espanha e Alemanha. Os clínicos espanhóis estavam dispostos a arriscar a cirurgia mas não lhe garantiram que sobreviveria à intervenção. José desistiu, não só pelos riscos de saúde mas por ser Testemunha de Jeová, que segundo a sua interpretação da Bíblia impede que os fiéis sejam submetidos a transfusões de sangue, um procedimento que estava previsto no caso de ser operado.

Mas aos 53 anos, praticamente cego e quase derrotado pelo peso na coluna provocado pelo enorme angioma, decidiu tentar mais uma vez, agora nos Estados Unidos. Médicos cirurgiões estavam disponíveis para uma última tentativa e com uma cirurgia inovadora.

Operação em Chicago retira tumor com 5,5 quilos

Foi pelas mãos de uma equipa de cirurgiões, incluindo o norte-americano Iain Hutchinson, do St. Bartholomew Hospital, que José Mestre foi submetido a uma cirurgia inovadora, que incluiu um total de quatro intervenções e que não implica transfusão de sangue.

Segundo explicou na altura o cirurgião, a operação foi feita através de um “bisturi harmónico, que usa ondas de ultra-som para coagular os vasos sanguíneos”, reduzindo a perda de sangue, tendo o médico ilustrado o procedimento como o “corte do caule a uma flor sem cortar a flor”. José Mestre foi submetido a quatro cirurgias, primeiro para retirar o grosso da protuberância e, depois, para reconstruir o volume do lábio e dar uma melhor forma ao nariz.

Cada intervenção cirúrgica, espaçada por três a cinco meses, durou seis a sete horas, sendo o caso classificado pelo cirurgião como “altamente invulgar e complexo”.

Ramsen Azizi, um dos outros cirurgiões que está a tratar do caso, admitiu igualmente que “este foi provavelmente o maior tumor jamais retirado e, por isso, foi muito difícil fazê-lo sem deformar o rosto”.

José Mestre já teve alta mas só deverá regressar a Portugal dentro de semanas. Durante este período, continuará a ser observado pela equipa que o está a acompanhar.