Liga procura mortos da guerra colonial em Moçambique

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Militares em Moçambique Foto: DR/arquivo

Cerca de sete mil quilómetros percorridos de jipe, uma deslocação interna de avião e 23 cemitérios visitados durante 19 dias - é o balanço da primeira missão da Liga dos Combatentes em Moçambique, à procura das campas de militares portugueses mortos durante a guerra colonial. No próximo ano, a Liga tenciona regressar àquele país, para concluir o reconhecimento dos locais de enterro e avançar para a exumação e identificação dos restos mortais de diversos combatentes.

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Cerca de sete mil quilómetros percorridos de jipe, uma deslocação interna de avião e 23 cemitérios visitados durante 19 dias - é o balanço da primeira missão da Liga dos Combatentes em Moçambique, à procura das campas de militares portugueses mortos durante a guerra colonial. No próximo ano, a Liga tenciona regressar àquele país, para concluir o reconhecimento dos locais de enterro e avançar para a exumação e identificação dos restos mortais de diversos combatentes.

Este trabalho é semelhante ao que a Liga dos Combatentes já concluiu na Guiné-Bissau, em cinco missões, entre 2008 e o início deste ano: além da localização das sepulturas, foi feito o levantamento e a identificação dos corpos de 50 militares da então chamada metrópole. Alguns deles foram trasladados entretanto para Portugal por vontade das famílias. Na sua última missão na Guiné-Bissau, a Liga foi à procura da vala comum em que foram sepultados vários dos militares que morreram (entre os cerca de 50) durante a travessia do rio Corubal, em Fevereiro de 1969, quando estava a proceder-se à retirada do quartel de Madina do Boé, junto à fronteira com a Guiné-Conacri. A vala não foi encontrada.

Em Moçambique, a equipa, chefiada pelo major-general Fernando Aguda, vice-presidente da Liga, começou por localizar as campas, quer em cemitérios, quer em locais de enterro improvisados, por exemplo em antigos quartéis portugueses, no Norte e no Sul do país. Nampula, Niassa, Cabo Delgado, Inhambane, Maputo e Gaza foram as províncias visitadas.

Em Junho do próximo ano, a equipa deverá fazer o mesmo no Centro do país, nas províncias de Tete, Zambézia, Manica e Sofala, onde está prevista a visita a outros dez locais.

O número total de militares portugueses mortos, desaparecidos e não identificados durante a guerra colonial em Moçambique, recrutados tanto localmente como na metrópole, é de 1414, indica Fernando Aguda. Desses, cerca de 150 eram oriundos da metrópole.

Nesta missão, levada a cabo no mês passado, com o nome Nova Frente, verificou-se que deverá ser necessário exumar 25 a 30 corpos, refere Fernando Aguda. Muitos até se encontram em campas identificadas, só que em locais bastante isolados, onde já não existe qualquer povoação e ficaram assim perdidos no meio do mato. Outras campas já não têm qualquer nome que permita a identificação de quem lá está sepultado.

Uma vez referenciadas as sepulturas espalhadas por todo o país, a equipa da antropóloga forense Eugénia Cunha, da Universidade de Coimbra e colaboradora do Instituto Nacional de Medicina Legal, deverá começar, em Outubro do próximo ano, a exumação dos restos mortais dos militares que estejam em locais isolados.

Para concentrar os corpos exuma- dos, uma vez que Moçambique é bastante extenso, a Liga tenciona construir um ossário em Nampula e, em princípio, outro na Beira.

"As campas que estão em cemitérios que merecem a palavra cemitério vão ser apenas melhoradas, limpas, pintadas... É preciso dignificá-las", explica Fernando Aguda, acrescentando que os corpos por identificar que ficaram sepultados em cemitérios não deverão ser exumados.

Para já, três famílias manifestaram a intenção de trazer para Portugal os restos mortais de militares que ficaram em Moçambique. A essas famílias, a Liga dos Combatentes já enviou informações, refere o vice-presidente. A trasladação e os seus custos ficarão, no entanto, a cargo das famílias, como tem acontecido até agora.