Tony Curtis: O menino bonito do Bronx que o cinema transformou em príncipe

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Tony Curtis com Marilyn

Quando era miúdo, no Bronx do início dos anos 30, em plena Grande Depressão, Bernard Schwartz - que mais tarde viria a tornar-se famoso em Hollywood com o nome de Tony Curtis - aprendeu a desviar-se dos murros dos outros miúdos e das pedras que lhe eram atiradas nas guerras de gangs para proteger o que tinha de mais valioso: o rosto.

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Quando era miúdo, no Bronx do início dos anos 30, em plena Grande Depressão, Bernard Schwartz - que mais tarde viria a tornar-se famoso em Hollywood com o nome de Tony Curtis - aprendeu a desviar-se dos murros dos outros miúdos e das pedras que lhe eram atiradas nas guerras de gangs para proteger o que tinha de mais valioso: o rosto.

O actor norte-americano, que morreu ontem aos 85 anos em Las Vegas, com uma paragem cardíaca, foi desde o início o "menino bonito" de Hollywood. E ele sabia que era esse rosto, com o cabelo preto encaracolado e os olhos muito azuis, que iria chamar as atenções. Foi assim, de facto, na primeira fase da sua carreira, quando, recordava ontem o Washington Post, teve que mandar fazer um fato especial que aguentasse os puxões que recebia das admiradoras que o perseguiam nas ruas.

Ontem, nos obituários que se fizeram na imprensa internacional, o filme mais citado foi Quanto Mais Quente Melhor, a comédia de Billy Wilder, na qual contracena com Marilyn Monroe e Jack Lemmon - os dois amigos, disfarçados de mulheres, disputam as atenções de Marilyn/Sugar Kane. O filme, de 1959, foi provavelmente o maior sucesso da sua carreira, apesar de ter sido pelo seu papel como um racista que foge da prisão algemado a um prisioneiro negro (Sidney Poitier) em "Os Audaciosos" (1958) que foi nomeado para o Óscar de Melhor Actor.

De soldado a actor

Nascido em 1925, filho de imigrantes judeus vindos da Hungria, Tony Curtis teve uma infância difícil. Vivia com os pais e os dois irmãos numa casa ligada à loja onde o pai trabalhava como alfaiate. Contou várias vezes em entrevistas que a mãe lhe batia frequentemente (mais tarde, soube-se que Helen Schwartz sofria de esquizofrenia, tal como Robert, um dos irmãos de Bernard/Tony). A América estava mergulhada numa grave crise económica, e a família Schwartz foi profundamente afectada - durante algum tempo, Tony e o irmão Julius tiveram de ser colocados numa instituição, porque os pais não tinham dinheiro para os alimentar. Julius acabaria por morrer, mais tarde, atropelado por um camião.

Tony Curtis alistou-se depois na Marinha e assistiu à rendição do Japão em 1945. Quando a guerra acabou, regressou a Nova Iorque e inscreveu-se numa escola para aprender a representar. Teve como colegas, entre outros, Walter Matthau, mas foi a sua cara bonita que primeiro chamou a atenção dos agentes cinematográficos. Em 1948, assinava um contrato com os estúdios da Universal e mudava o nome para Tony Curtis.

Na fase inicial da carreira, dedicou-se sobretudo à comédia. Em 1951, casou com a actriz Janet Leigh (que, mais tarde, viria a fazer "Psico", com Alfred Hitchcock) e o casal tornou-se um dos mais mediáticos de Hollywood. Juntos tiveram duas filhas, uma das quais, Jamie Lee Curtis, viria também a ser actriz.

Casamentos e talk-shows

As décadas de 50 e de 60 foram o ponto alto da carreira de Tony Curtis, sublinhava ontem o The New York Times, e o sucesso obtido nas comédias fez aumentar a ambição de se lançar como actor dramático. Entrou em filmes como "Spartacus" (1960), de Stanley Kubrick, e "The Boston Strangler" (1968), de Richard Fleischer, no qual interpretava o assassino Albert DeSlavo - e para o qual engordou, esperando que o papel lhe permitisse relançar a sua carreira, já em declínio.

As décadas seguintes foram marcadas por vários casamentos (seis, ao todo, ao longo da sua vida, e seis filhos, um dos quais, Nicholas Curtis, morreu em 1994 com uma overdose de heroína), e por uma série de papéis pouco relevantes em filmes e séries televisivas. Convidado frequentemente para participar em talk-shows televisivos, nos últimos anos passou a dedicar-se à pintura.

Em 1996, explicou numa entrevista ao jornal britânico The Independent como o cinema mudou a sua vida: "Os filmes deram-me o privilégio de ser um aristocrata, de ser o príncipe."