Lady Gaga: é isto a morte do sexo?, pergunta Camille Paglia
Ela passou a década de 1980 a defender o sexo, o fetiche, as rendas de Madonna e a libertação sexual que a tinha como porta-estandarte. Agora, dedicou-se a estraçalhar a (as)sexualidade, a imagem construída e os espinhos de Lady Gaga. Comparando-a com Elton John, Boy George e David Bowie, ídolos da Gaga, a feminista Camille Paglia diz que a Lady não tem a alma cantante de John e George, e que não merece sequer estar na companhia de Bowie, um subversor de géneros, "um guerreiro pela libertação sexual e pela redefinição da fluidez psíquica da orientação sexual". Mais: "Nunca houve uma performer revelação 'mainstream' que, como Lady Gaga, traficasse obsessivamente nos campos dos cenários sexuais e psicodramas solipsistas. Os muitos movimentos de braços frenéticos e adejantes impostos pelos seus coreógrafos profissionais não conseguem disfarçar a sua depressão essencial e a sua paralisia espiritual", ataca Paglia. Ai, disse a Internet e a imprensa perante a violência da crítica. Afinal, em que ficamos, senhora crítica cultural, social e de género? Gaga é ou não uma "gender bender"? Ajudou ou não a diluir essas coisas do masculino/feminino/queer/normal/anómico?
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Ela passou a década de 1980 a defender o sexo, o fetiche, as rendas de Madonna e a libertação sexual que a tinha como porta-estandarte. Agora, dedicou-se a estraçalhar a (as)sexualidade, a imagem construída e os espinhos de Lady Gaga. Comparando-a com Elton John, Boy George e David Bowie, ídolos da Gaga, a feminista Camille Paglia diz que a Lady não tem a alma cantante de John e George, e que não merece sequer estar na companhia de Bowie, um subversor de géneros, "um guerreiro pela libertação sexual e pela redefinição da fluidez psíquica da orientação sexual". Mais: "Nunca houve uma performer revelação 'mainstream' que, como Lady Gaga, traficasse obsessivamente nos campos dos cenários sexuais e psicodramas solipsistas. Os muitos movimentos de braços frenéticos e adejantes impostos pelos seus coreógrafos profissionais não conseguem disfarçar a sua depressão essencial e a sua paralisia espiritual", ataca Paglia. Ai, disse a Internet e a imprensa perante a violência da crítica. Afinal, em que ficamos, senhora crítica cultural, social e de género? Gaga é ou não uma "gender bender"? Ajudou ou não a diluir essas coisas do masculino/feminino/queer/normal/anómico?
Andou na mesma escola que as irmãs Hilton e era uma morena de ar saudável, acusa Camille Paglia, como quem diz que a artista é pouco torturada e que esta coisa de aos fãs chamar monstros e "freaks" é só mais uma parte da construção. Lady Gaga, para Paglia, é uma colagem humana, uma árvore que colecciona ornamentos de Madonna, claro, Bette Midler, Cher, Gwen Stefani, Pink, ícones de moda como Isabella Blow ou Daphne Guinness (ambas amigas do falecido criador de moda Alexander McQueen, que Gaga usou sempre que pôde) e que produz uma imagem que se quer carregada de questões sexuais mas que, na verdade, considera resultar numa coisa assexual. "Gaga pediu tanta coisa emprestada a Madonna (como no seu vídeo mais recente, 'Alejandro') que tem de se perguntar: A partir de que ponto é que a homenagem se transforma em roubo? Contudo, a questão principal é que a jovem Madonna estava 'on fire'. Ela era, de facto, a verdadeira herdeira de Marlene Dietrich. Para Gaga, o sexo é sobretudo decoração e superfície", diz Paglia no incendiário perfil dedicado à Geração Gaga publicado na revista do "Sunday Times". "É isto a morte do sexo?" Critica a postura, os videos, a pose constante para os paparazzi na era digital, seja pelas roupagens com que vai ao ginásio, ao aeroporto ou a um jogo de basebol. "Marlene [Dietrich] e Madonna davam a impressão, verdadeira ou falsa, de serem pansexuais. Gaga, com toda a sua pose e remexer, é assexual", postula Camille Paglia.