Madeira: incêndios destruíram quase todo o habitat de ave mais ameaçada da Europa

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Agora, o objectivo é que, no regresso à Madeira, os casais encontrem condições para nidificar DR

Paulo Oliveira explicou que o fogo que consumiu este Verão grande parte da floresta madeirense também “afectou seriamente as zonas altas de vegetação de altitude”, nos Picos do Areeiro e Ruivo, sobretudo o maciço montanhoso central. Estima-se que tenha ardido cerca de 90 por cento doParque Ecológico do Funchal.

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Paulo Oliveira explicou que o fogo que consumiu este Verão grande parte da floresta madeirense também “afectou seriamente as zonas altas de vegetação de altitude”, nos Picos do Areeiro e Ruivo, sobretudo o maciço montanhoso central. Estima-se que tenha ardido cerca de 90 por cento doParque Ecológico do Funchal.

O responsável diz que o fogo “destruiu o habitat de nidificação da Freira (Pterodroma madeira), uma destruição que não foi total porque há pequenas áreas em que ainda estão activas, mas outras ficaram perfeitamente pulverizadas”. Contudo, “as duas principais colónias de nidificação ficaram completamente destruídas”, realça.

Paulo Oliveira assegura que a época de reprodução deste ano já está perdida mas admite que os efeitos não serão muito negativos na população existente, estimada em 80 casais, porque as “baixas” aconteceram apenas nos juvenis, tendo os incêndios acontecido numa altura em que “os adultos não estavam na área”. Salienta que os juvenis “não fazem parte do segmento reprodutor, que se manteve, está em alto mar, abandonou a área de nidificação”.

“Mas a perda do habitat significa muito se não tivermos acções e é aí que estamos a intervir”, sustenta, recordando que as equipas do Parque Natural foram para o terreno tratar os juvenis desta espécie ameaçada que sobreviveram, alguns dos quais ficaram soterrados.

Agora, o objectivo é que, no regresso à Madeira, os casais encontrem condições para nidificar, um esforço que visa “aumentar a produtividade da espécie e evitar que se dispersem”.

Por isso, o objectivo é recuperar as áreas destruídas, estando também a ser construídos ninhos artificiais, com recurso materiais diversos, como condutas de ar condicionado tubos de exaustor para recriar a entrada, que são protegidos depois com manta anti-erosão, estando previsto também dispersar sementes quando começarem as primeiras chuvas.

“A nossa prioridade é manter as aves onde estavam e recuperar as áreas mais produtivas ao longo dos anos”, sublinha.

Um dos problemas deste trabalho, que decorre nas serras do Areeiro, são as “áreas inacessíveis” em que os técnicos têm de “trabalhar sempre segurados por cordas, em ravinas com centenas de metros de altitude, o que torna o trabalho doloroso, cansativo e perigoso”.