Milhares em protesto contra expulsões de ciganos preparam semana difícil para Sarkozy
A “importante mobilização” que desafiou Sarkozy – descreviam os media franceses – seguiu-se ao apelo de grupos de defesa dos direitos humanos, a que aderiram sindicatos e toda a oposição de esquerda. Sondagens recentes revelam, porém, que uns 65 por cento da população francesa apoia as medidas do Presidente.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A “importante mobilização” que desafiou Sarkozy – descreviam os media franceses – seguiu-se ao apelo de grupos de defesa dos direitos humanos, a que aderiram sindicatos e toda a oposição de esquerda. Sondagens recentes revelam, porém, que uns 65 por cento da população francesa apoia as medidas do Presidente.
Os protestos visavam a endurecimento da chamada “política de segurança” adoptada pelo Governo – com a qual Sarkozy construiu o seu sucesso eleitoral nas presidenciais de 2007 –, incluindo a expulsão de pessoas da etnia cigana do país, que os activistas descrevem como xenófoba e inumana.
Sarkozy deu luz verde em Julho ao desmantelamento de uma centena de acampamentos ilegais de ciganos e à expulsão destas pessoas, defendendo que seja retirada a nacionalidade francesa àqueles que a possuem e que o Presidente descreveu como “certos elementos criminosos de origem estrangeira”.
Desde Julho pelo menos mil ciganos foram forçados a regressar à Roménia e Bulgária e, de acordo com os números oficiais, mais de 11 mil membros da etnia foram expulsos de França no ano passado.
Mais de 100 cidadesEmpunhando cartazes que apelavam ao “fim da repressão”, os protestos espalharam-se por mais de uma centena de cidades francesas – de Paris a Lyon e Lille, Rennes, Marselha, Bordeaux e Toulouse – assim como em frente às embaixadas de França em muitas capitais da União Europeia.
A capital congregou o protesto mais maciço, com dezenas de milhares de pessoas a marcharem até à praça do município com dezenas de ciganos a encabeçar a manifestação a que se juntaram personalidades políticas, sindicalistas, activistas e artistas – todos sob o slogan de “Não à xenofobia e à política do pelourinho. Liberdade, igualdade e fraternidade”, lançado pela Liga dos Direitos Humanos (LDH).
Os organizadores falam numa mobilização de 50 mil pessoas só em Paris mas a polícia diz que eram 12 mil. A nível nacional responderam ao apelo entre 30 mil e 89 mil manifestantes – dependendo se as contas vêm da polícia ou dos organizadores.
“A linha vermelha foi ultrapassada”, avaliou o presidente da LDH, Jean-Pierre Dubois. "Não aceitamos o veneno que o Governo está a instalar”, criticou por seu lado a líder dos Verdes, Cécile Duflot.
Cerca de 15 mil pessoas da etnia cigana vivem em França, onde estão abrangidas pelas regras de livre circulação europeias. Mas vivem quase sempre em acampamentos precários e, de acordo com a lei francesa, ao fim de seis meses sem domicílio fixo nem fontes de rendimento tornam-se ilegais e podem ser expulsos.
Greve à vistaA adesão aos protestos de hoje lança uma semana que se avizinha complicada para o Presidente francês, com uma greve e manifestações convocadas pelos sindicatos para terça-feira, que se prevê venham a afectar o funcionamento das escolas, transportes e telecomunicações.
No mesmo dia começam a ser debatidas no Parlamento as reformas do sistema de pensões – incluindo o aumento da idade de aposentação dos 60 para os 62 anos – às quais se opõem 70 por cento dos franceses, mas que Sarkozy defende como essenciais para baixar o défice orçamental. “Não serei o Presidente que parte sem ter equilibrado o sistema de pensões”, declarou sexta-feira.