Os Mercenários

Personagens de papelão, guião despachado que ejecta tudo o que não faz falta, história reciclada de filmes melhores (uma equipa de mercenários contratada para eliminar o ditador de opereta de um país fictício da América Latina), realização funcional e pontualmente desastrada. OK, sim, no papel não há nada de particularmente recomendável nem de estimulante num filme derivativo como este.

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Personagens de papelão, guião despachado que ejecta tudo o que não faz falta, história reciclada de filmes melhores (uma equipa de mercenários contratada para eliminar o ditador de opereta de um país fictício da América Latina), realização funcional e pontualmente desastrada. OK, sim, no papel não há nada de particularmente recomendável nem de estimulante num filme derivativo como este.


Mas o encanto (sim, é a palavra) de "Os Mercenários" joga-se todo na assunção dessa derivação, da certeza de ter sido pensado de raiz como um filme de acção que existe fora do seu tempo, assinalado pela "décalage" do humor de velhos camaradas de guerra, pelo elenco de luxo de vedetas menores ou gastas do cinema de acção da década de 1980. "Os Mercenários" vive exclusivamente da memória afectuosa de um cinema popular que sempre foi olhado de esguelha, com uma grandeza comovente de dar a esta gente uma espécie de "saída de palco" digna e de fazer uma "passagem de testemunho" para uma nova geração (com Jason Statham à cabeça), sem pretensões de querer ser mais do que isso. É, além do mais, o melhor - porque mais sincero - dos três sucessivos "comebacks" de Stallone, superior quer à simpatia esforçada de "Rocky Balboa" quer à violência sisuda de "John Rambo". Houvesse aqui o mínimo de culpa - e ainda bem que não há - e seria o grande prazer culpado de 2010. Assim, é só um prazer.