Paulo Parra leva as suas canetas, pedras lascadas, cochos e iPods para Évora
O projecto de um novo Museu do Design é hoje apresentado em Évora. O espólio livresco e de design de equipamento internacional do coleccionador Paulo Parra vai ao Alentejo e espera criar pontes com o artesanato
Há ali, naquela colecção de um estudante universitário curioso tornado cognome de museu de design, um manancial de "primeiros": a primeira caneta de tinta permanente, uma Waterman de 1884, a primeira esferográfica, o primeiro walkman, os primeiros computadores Apple, os primeiros telemóveis, rádios e até um canivete suíço do século XIX. À mistura com os primeiros vidros e porcelanas Vista Alegre (1840), peças de Bordalo Pinheiro ou da britânica Wedgewood e tarros (baldes de cortiça), cochos (conchas de cortiça pastoris) e outros utensílios alentejanos. E, a par das tais pedras lascadas, o potencial para ultrapassar polémicas aliando artesanato a design. É tudo uma questão de técnica, conta-nos Paulo Parra.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Há ali, naquela colecção de um estudante universitário curioso tornado cognome de museu de design, um manancial de "primeiros": a primeira caneta de tinta permanente, uma Waterman de 1884, a primeira esferográfica, o primeiro walkman, os primeiros computadores Apple, os primeiros telemóveis, rádios e até um canivete suíço do século XIX. À mistura com os primeiros vidros e porcelanas Vista Alegre (1840), peças de Bordalo Pinheiro ou da britânica Wedgewood e tarros (baldes de cortiça), cochos (conchas de cortiça pastoris) e outros utensílios alentejanos. E, a par das tais pedras lascadas, o potencial para ultrapassar polémicas aliando artesanato a design. É tudo uma questão de técnica, conta-nos Paulo Parra.
"Não existe uma diferença entre o artesanato e o design", postula. "Há é tecnologias diferentes. O cocho ou uma porcelana da Vista Alegre são utilitários testemunhos de uma evolução lógica dos seres humanos", diz ao P2 o director do curso de Design da Universidade de Évora e responsável pelos doutoramentos de Design de Equipamento da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. O tema surge não só pela convivência de artefactos como as pedras lascadas do Megalítico, peças da comunidade religiosa Shaker norte-americana (muito conhecida pelo seu contributo ao nível do mobiliário) e a colecção de electrodomésticos do designer Peter Behrens, expoente do modernismo, para a AEG, mas porque o novo museu se vai situar nas instalações do actual Centro de Artes Tradicionais de Évora.
A decisão da localização do museu, aprovada em reunião pública de câmara (PS) em Abril, mereceu contestação dos defensores da preservação de um espaço que acolhe o espólio de artesanato da Entidade Regional de Turismo. O edifício, no centro de Évora e gerido pelo Turismo do Alentejo, vai agora acolher o museu de design, e Parra defende que a organização cronológica da exposição permanente do futuro museu vai permitir a coexistência dos dois espólios e das duas actividades. Aliás, já levou a cabo vários trabalhos com artesãos - é lembrar a Sela Portuguesa, no Pavilhão de Portugal na Expo Saragoça 2008. "Acredito que muito da sobrevivência do artesanato tradicional pode passar pela colaboração com o design, são precisas pontes para unir designers e artesãos", disse.
2500 peçasA ideia é também descentralizar: "O design está em Lisboa, mas tem de começar a aparecer noutros pontos do país. Esta é uma tentativa de criar um outro pólo", diz Paulo Parra, cuja colecção chegou a estar pensada para se juntar ao espólio de Francisco Capelo (hoje acervo do Museu do Design e da Moda - Mude) no Centro Cultural de Belém. "Esse casamento não se deu." O Museu do Design - colecção Paulo Parra quer criar parcerias com o Mude e está já em contacto com outros museus de design alemães e brasileiros, a pensar em internacionalização.
O processo de instalação em Évora começou há cerca de ano e meio, muito graças à ligação à Universidade de Évora, cujo público, juntamente com o da cidade, é o principal alvo do museu. Depois há os turistas, que ali encontram algo de contemporâneo em contraponto com a oferta histórica da cidade. Além das cerca de 2500 peças, Paulo Parra vai separar-se com alguma melancolia da sua biblioteca de design, arquitectura e arte, que dará ao museu mais condições para, no futuro, se candidatar a integrar a rede do Instituto dos Museus e da Conservação, garantindo a valência de formação e investigação. Haverá uma loja e um auditório, e estão programadas conferências em articulação com o curso de Design de Évora, cujos alunos, bem como os da FBAUL, poderão ter ali à venda alguns trabalhos de projecto com parcerias empresariais.
O museu resulta de uma parceria entre o Turismo do Alentejo, cujo director reservou para a conferência de imprensa de hoje a quantificação do investimento, a Câmara Municipal de Évora e o coleccionador, que juntamente com a designer e docente Inês Secca Ruivo constituirá a direcção executiva do museu. A CME, o Turismo e o coleccionador formam o Conselho Científico do museu.
Paulo Parra tem uma colecção open space, diz-nos. Sempre em aberto. Orgulha-se da sua diversidade e exaustividade, que compara à do Centro Pompidou (Paris), lembra o interesse despertado pelo Design Museum de Londres, pela Trienal de Milão ou pelo próprio Mude. Bauhaus, Philippe Starck, Joe Colombo, Norman Bel Gueddes, Bruno Munari, Roger Tallon. "Tenho os principais produtos de design industrial de diferentes países e épocas", enumera.
Ao telefone, observa uma das compras mais recentes: uma sombrinha Hermés, preta e branca, em estilo Déco. Ao longo dos anos comprou peças como estas, mas sobretudo design de equipamento. "A colecção começou por um certo amadorismo como estudante de design. Comecei a comprar peças de design para saber como eram, como funcionavam. Tenho de desmontar algumas para as limpar ou recuperar e aprendo sempre. Depois percebi que ou me tornava semiprofissional ou tinha de parar. Tornei-me profissional."