Já há árvores a morrer no Príncipe Real
Faz hoje dois meses que reabriu, e, de então para cá, o Jardim do Príncipe Real ganhou uma nova e indesejada cor: o pó branco que se solta do piso colocado pela Câmara de Lisboa espalha-se por todo o lado, cobrindo carros, bancos e plantas. Basta uma lufada de vento para se formar uma nuvem no horizonte. Comerciantes e utilizadores do jardim, onde é visível que algumas das árvores plantadas em Maio estão moribundas, queixam-se também da falta de sombra e dizem que com as obras o espaço ficou menos acolhedor.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Faz hoje dois meses que reabriu, e, de então para cá, o Jardim do Príncipe Real ganhou uma nova e indesejada cor: o pó branco que se solta do piso colocado pela Câmara de Lisboa espalha-se por todo o lado, cobrindo carros, bancos e plantas. Basta uma lufada de vento para se formar uma nuvem no horizonte. Comerciantes e utilizadores do jardim, onde é visível que algumas das árvores plantadas em Maio estão moribundas, queixam-se também da falta de sombra e dizem que com as obras o espaço ficou menos acolhedor.
"Não sei qual foi a ideia deles. Isto agora é como se fosse um picadeiro de cavalos", lamenta Amândio Oliveira, que há três décadas explora ali um quiosque de comida. Este comerciante garante que desde o fim das muito polémicas obras de requalificação que ouve sobretudo reclamações dos clientes, principalmente por causa do pavimento de saibro estabilizado que foi colocado em substituição do alcatrão.
"Não sei por que puseram este chão", corrobora Henrique Neves, enquanto com a mão procura limpar uma fileira de revistas cobertas de "um pó fininho que se entranha em todo o lado". Do quiosque de jornais e revistas onde trabalha, este empresário tem vista privilegiada para o jardim e para os seus assentos, que por estes dias são mais brancos do que castanhos.
Também os carros estacionados nas ruas que envolvem o Príncipe Real sofrem do mesmo problema e há moradores que agora optam por abrir o mínimo possível as janelas de casa.
O biólogo Rui Pedro Lérias lembra que o omnipresente pó também prejudica as plantas, na medida em que as impede de respirarem com eficiência e propicia o aparecimento de doenças nas folhas. Membro dos Amigos do Príncipe Real, um grupo que se formou em 2009 em torno da indignação contra o abate de árvores, este biólogo critica também que os choupos que ladeavam o jardim tenham sido retiradas de uma só vez, eliminando a "cortina de protecção" existente.
Num passeio pelo jardim, Rui Pedro Lérias e Jorge Pinto (outro dos dinamizadores do grupo) apontam com desalento para vários liquidámbares e uma tília moribundos. O biólogo fala em "incúria", explicando que as árvores não vingaram porque foram plantadas na altura errada e depois de terem estado demasiado tempo à superfície sem serem regadas.
"Isto hoje é uma chapada de sol", comenta Jorge Pinto, que critica também que as áreas relvadas de antigamente estejam hoje transformadas em zonas calcetadas ou em canteiros com vegetação pouco densa.
Sentado num dos bancos por baixo do secular cedro-do-buçaco, o septuagenário Luís Cruz não tem dúvidas de que "antes da obra isto estava melhor do que está agora" e diz que fez questão de isso mesmo dizer ao presidente da Câmara de Lisboa no dia em que o jardim reabriu. "Como é que pode ser? As pessoas têm de saber o que andam a fazer", conclui, incomodado.