Ordenação de mulheres é crime a par da pedofilia para o Vaticano
A Igreja Católica considera a ordenação de mulheres um dos crimes mais graves, ao nível da heresia e do cisma. Merece excomunhão, tanto da mulher como do bispo que a tentar ordenar. É um “delito grave contra a fé”, diz o documento, apresentado pelo porta-voz do Vaticano Federico Lombardi e enviado a todos os bispos católicos do mundo, sob a forma de carta.
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A Igreja Católica considera a ordenação de mulheres um dos crimes mais graves, ao nível da heresia e do cisma. Merece excomunhão, tanto da mulher como do bispo que a tentar ordenar. É um “delito grave contra a fé”, diz o documento, apresentado pelo porta-voz do Vaticano Federico Lombardi e enviado a todos os bispos católicos do mundo, sob a forma de carta.
No novo documento juntam-se os “delitos contra o sacramento” (aqueles que apenas podem ser cometidos por padres), como a ordenação de mulheres, e os que são “ofensas à moral (que podem ser cometidos por todos), como os actos pedófilos, explica Andrew Brown, especialista em religião do jornal britânico "The Guardian", num comentário a esta notícia, que titula "Uma catástrofe de relações públicas do Vaticano". “Se se está a tentar um sistema funcional, crimes rituais ou sacramentais podem ser tão destruidores como os morais”, escreve. “Mas é uma conjugação que não vai cair bem no mundo exterior. Um organismo que tivesse alguma noção de relações públicas publicaria as duas revisões separadamente.”
O Vaticano não levou isso em conta e juntou então a punição de abusos sexuais por padres com a ordenação de mulheres — uma ideia que tem crescido nos últimos anos, embora vá ao arrepio dos fundamentos da Igreja Católica. Nos Estados Unidos, por exemplo, adianta o "New York Times", há mais de duas décadas que os estudos de opinião mostram que largas maiorias de católicos gostariam de ver mulheres ordenadas padres. A última sondagem daquele jornal e da CBS, de Maio, mostrava que 59 por cento dos católicos dos EUA gostaria de ter mulheres padres (33 por cento opunham-se).
Nas novas regras para lutar conta a pedofilia prevêem-se procedimentos “mais rápidos para enfrentar com eficácia as situações mais graves e urgentes”, disse o padre Lombardi, citado pela edição online do jornal "El País".
Abre-se também a porta à entrada de laicos nos tribunais eclesiásticos que julguem estes casos e eleva-se o período de prescrição para o delito de abusos sexuais de dez para 20 anos (a contar do 18.º aniversário da vítima). É também introduzido um novo crime, a pornografia pedófila.
É também dito de maneira explícita que se “deve seguir a lei civil no que diz respeito à denúncia dos crimes às autoridades apropriadas”. No entanto, sublinha o jornal italiano Corriere della Sera, sobre o tema delicado da colaboração entre a justiça canónica (da igreja) e civil na investigação das acusações de abusos sexuais praticados por padres, não foram feitas alterações.