Cientistas afirmam ter encontrado os ossos de Caravaggio

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Tony Gentile/Reuters

Michelangelo Merisi da Caravaggio revolucionou a pintura europeia com a sua utilização ímpar do contraste entre luz e sombra, numa técnica dita de chiaroescuro. Nasceu em Caravaggio, Lombardia, em 1571, e terá morrido numa praia toscana a 18 de Julho de 1610 – não tinha ainda 39 anos. Teve uma vida agitada: gostava de brigas de rua e, em 1606, matou um homem. Já no auge da sua carreira, viu-se obrigado a abandonar Roma para fugir à justiça. O seu percurso levá-lo-ia primeiro a Nápoles e a seguir a Malta e à Sicília.

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Michelangelo Merisi da Caravaggio revolucionou a pintura europeia com a sua utilização ímpar do contraste entre luz e sombra, numa técnica dita de chiaroescuro. Nasceu em Caravaggio, Lombardia, em 1571, e terá morrido numa praia toscana a 18 de Julho de 1610 – não tinha ainda 39 anos. Teve uma vida agitada: gostava de brigas de rua e, em 1606, matou um homem. Já no auge da sua carreira, viu-se obrigado a abandonar Roma para fugir à justiça. O seu percurso levá-lo-ia primeiro a Nápoles e a seguir a Malta e à Sicília.

“Estamos a ser prudentes. Enquanto historiador, posso dizer que encontrámos os restos [do Caravaggio]”, disse Silvano Vinceti, o impulsionador do projecto – cujo trabalho, escrevia recentemente o Wall Street Journal, é controverso por não ser nem historiador nem cientista profissional. Vinceti é conhecido pela reconstituição digital do rosto de Dante Alighieri a partir dos seus restos – e já anunciou que tenciona fazer o mesmo com os de Leonardo da Vinci.

Os presumíveis ossos do Caravaggio, enterrados numa vala comum na aldeia toscana de Porto Ercole misturados com os de mais duas centenas de indivíduos, foram transferidos em 1956 para um ossário. E agora, os cientistas e historiadores envolvidos, provenientes de quatro universidades italianas, estudaram nove achados “candidatos”, lendo documentos históricos, realizando datações com carbono 14 e análises de ADN. Os resultados sugerem várias outras causas possíveis de morte, para além das que já tinham sido avançadas por outros especialistas, que especulavam que o artista teria sido assassinado por um inimigo ou sucumbido à sífilis ou à malária.

Nos últimos dias da sua vida, o Caravaggio estaria a regressar a Roma para pedir perdão pelo seu crime de quatro anos antes. Estava fragilizado pela sífilis, mas é possível que tenha também sofrido de saturnismo (intoxicação com chumbo, devido aos pigmentos que utilizava para pintar). Tanto a sífilis como o saturnismo provocam perturbações mentais que poderão explicar em parte o comportamento errático do pintor ao longo da sua vida.

Os cientistas escolheram o “achado nº5” por várias razões: os ossos indicavam um homem com a idade certa que terá morrido na altura certa – e continham altos níveis de chumbo. Também compararam o ADN dos ossos ao de habitantes actuais de Caravaggio com apelidos como Merisi e Merisio, concluindo que existem traços genéticos indicadores de parentesco. “Apenas um dos conjuntos de ossos possuía todos os elementos para ser do Caravaggio”, disse Giorgio Gruppioni, antropólogo da Universidade de Bolonha e elemento da equipa. A derradeira causa da morte terá contudo sido a insolação, num ano em que, determinaram, o Verão toscano foi extremamente quente.