Vaga de compra de jornais independentes em Angola
O negócio está a levantar preocupações sobre a liberdade de imprensa, reforçadas pela mudança de direcção no Semanário Angolense.
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O negócio está a levantar preocupações sobre a liberdade de imprensa, reforçadas pela mudança de direcção no Semanário Angolense.
A operação traduziu-se na aquisição pelo grupo Media Investments da totalidade do capital do Semanário Angolense e A Capital e de 40 por cento do Novo Jornal. No caso deste último, a entrada no jornal decorreu da cedência de parte da participação da portuguesa ESCOM, do Grupo Espírito Santo, que era de 55 por cento.
Um comunicado do grupo comprador, citado pela Lusa, refere que foi “uma transacção normal, ditada exclusivamente por factores de mercado”. O nome dos accionistas e os montantes envolvidos não foram divulgados. A Media Investments torna-se assim no terceiro maior grupo de media do país, a seguir ao Governo e à Media Nova, cujos proprietários têm supostamente ligações ao executivo.
Nas jornais comprados têm escrito algumas das vozes mais críticas do Governo, caso de Rafael Marques, no Semanário Angolense, e do escritor José Eduardo Agualusa, autor de uma coluna em A Capital. As aquisições ocorrem numa altura em que, notou a Reuters, o Semanário Angolense intensificara as reportagens sobre corrupção.
Um dos primeiros efeitos da compra deste último jornal – que, nas suas investigações, tem tido como um dos alvos mais frequentes o presidente da empresa petrolífera Sonangol, Manuel Vicente – foi a saída do fundador e director, Graça Campos, e o fim da colaboração de Rafael Marques. “O director saiu e disseram-me que eu não escrevo mais para o Semanário Angolense”, afirmou o jornalista à agência. “É muito estranho que o Semanário Angolense seja vendido a uma empresa desconhecida, quando aumentava as críticas ao Governo”, acrescentou.
Reginaldo Silva, jornalista e membro do Conselho Nacional de Comunicação Social, considera importante esclarecer os montantes envolvidos e saber quem são os accionistas da Media Investments. Em declarações à rádio Luanda Antena Comercial, citadas pela Lusa, disse que é preciso saber qual o interesse do grupo em “investir tanto na comunicação social”.