O fim anunciado do Roque Santeiro em Luanda

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O sítio foi baptizado com o nome de um herói que morreu a proteger a sua cidade na telenovela brasileira exibida em 1985 e 1986 José Manuel Ribeiro

O sítio foi baptizado com o nome de um herói que morreu a proteger a sua cidade na telenovela brasileira exibida em 1985 e 1986, com José Wilker, Regina Duarte e Lima Duarte, precisamente quando o grande espaço luandense começava a prosperar, durante a guerra civil angolana.

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O sítio foi baptizado com o nome de um herói que morreu a proteger a sua cidade na telenovela brasileira exibida em 1985 e 1986, com José Wilker, Regina Duarte e Lima Duarte, precisamente quando o grande espaço luandense começava a prosperar, durante a guerra civil angolana.

Décadas depois, centenas de milhares de vendedores gostariam que o herói dos 209 capítulos da novela da Globo regressasse para os proteger de um Governo que tenciona demolir o seu mercado e transferi-los em Junho para a área do Panguila, 18 quilómetros a norte de Luanda.

“Se o Roque morre, todo o nosso negócio morre”, afirma Olga da Conceição, que há mais de 20 anos ali vende roupas usadas. “O novo mercado é muito longe para nós irmos até lá todos os dias. Os nossos clientes vão desaparecer”.

Efectivamente, em cada dia que passa, 200.000 pessoas montam banca no Roque Santeiro, para vender de tudo, desde palitos a automóveis. É também o principal mercado para a generalidade dos angolanos, dado que a capital do país se tornou uma das cidades mais caras de todo o mundo, devido ao "boom" petrolífero que se seguiu ao fim da guerra civil, de acordo com a empresa de consultadoria ECA international.

“É o único lugar onde os angolanos pobres conseguem comprar alguma coisa”, diz João Silva, por entre uma pilha de chinelos chineses. “Isto aqui é um grande mercado porque os pobres procuram produtos baratos”.

O tamanho do Roque Santeiro é um reflexo do crescimento dramático e da pobreza de Luanda, cuja população cresceu 10 vezes desde 1974 e é agora de mais de cinco milhões.

Muitos angolanos fugiram para a capital durante a guerra civil, pois que só nela tinham tropas governamentais que as protegessem dos combatentes da UNITA, em luta contra o MPLA instalado no poder.

A maioria das pessoas chegadas do interior instalaram-se em musseques superlotados, sem trabalho; e recorreram ao Roque Santeiro para tentar sobreviver.

Hoje em dia, Luanda abriga quase um terço dos 16,5 milhões de angolanos, na sua maioria a viver em condições precárias em redor do mercado que se tornou um dos emblemas ou ex-libris da cidade.

As autoridades argumentam que os vendedores terão melhores condições de trabalho em Panguila (no município do Cacuaco), mas muitos críticos da transferência crêem que que o principal objectivo é vender a agentes imobiliários os terrenos do Roque Santeiro, sobranceiros ao porto de Luanda.

É de admitir até um aumento da criminalidade, se o velho Roque for demolido, pois que muita gente acabará no desemprego e será obrigada a sobreviver na rua, seja como for, argumenta outra pessoa que ali tem exercido a sua actividade. “Estes vendedores são a seiva da economia informal”, diz Ângela Diogo. “Se não conseguir ganhar algum dinheiro aqui no mercado, viram-se para o crime”.