Estados Unidos podem ter nas mãos a pior maré negra da sua história
“Vou ser franca. Até ao momento, os esforços da BP [o grupo britânico que explora a plataforma] para travar as fugas não tiveram sucesso”, disse a contra-almirante da Guarda Costeira de Nova Orleães, Mary Landry, em conferência de imprensa ontem à tarde. E se isso não mudar, a responsável não exclui a hipótese de esta vir a ser “uma das piores marés negras da história” do país.
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“Vou ser franca. Até ao momento, os esforços da BP [o grupo britânico que explora a plataforma] para travar as fugas não tiveram sucesso”, disse a contra-almirante da Guarda Costeira de Nova Orleães, Mary Landry, em conferência de imprensa ontem à tarde. E se isso não mudar, a responsável não exclui a hipótese de esta vir a ser “uma das piores marés negras da história” do país.
A explosão na plataforma petrolífera Deepwater Horizon, a 20 de Abril, causou o afundamento da estrutura e deixou em aberto, a 1500 metros de profundidade, um poço que liberta diariamente o equivalente a mil barris de petróleo. A poluição tem potencial para causar danos a praias, ilhas e uma costa que tem um ecossistema frágil. Especialmente o delta do rio Mississípi.
Wilma Subra, especialista em Ambiente no estado do Louisiana, prevê que a chegada da maré negra terá um “impacto enorme”. Aquele estado norte-americano tem 40 por cento das zonas húmidas dos Estados Unidos. “A mancha começará por afectar os crustáceos, as explorações de ostras e os peixes”, referiu.
Já foram recolhidos mais de mil barris de água e petróleoMais de mil pessoas estão envolvidas no esforço de contenção da poluição e a BP e a Guarda Costeira destacaram 49 navios, informa a unidade de missão criada para enfrentar este acidente.
A BP tenta, com a ajuda de oito submarinos, tapar as duas fugas a 1500 metros de profundidade, detectadas este sábado. Mas sem sucesso. À superfície estão a ser utilizadas barreiras e produtos dispersantes. No total, terão sido recolhidos mais de mil barris de uma mistura de água e petróleo.
Os engenheiros da BP estão a ponderar a colocação de uma cobertura submarina sobre as duas fugas para evitar que o petróleo se disperse na água. “É uma cobertura que será colocada sobre a fuga (no fundo do mar). Em vez de o petróleo chegar à água, ficará contido nesta estrutura”, explicou Prentice Danner, porta-voz da Guarda-Costeira. No entanto, a construção desta estrutura deverá demorar entre duas a quatro semanas.
Perante o insucesso, as autoridades decidiram optar por uma solução de último recurso: provocar um incêndio controlado do petróleo na água. Mas mesmo que se consiga proteger o litoral, esta operação poderá causar uma poluição do ar que trará consequências ambientais.
Landry, citada pela CNN, acredita que a mancha negra deverá ficar na mesma zona pelo menos nos próximos três dias. Mas as previsões meteorológicas sugerem que os ventos poderão empurrar a poluição para a costa.
O Governo norte-americano já prometeu “um inquérito completo e aprofundado” para apurar responsabilidades. A investigação vai olhar, nomeadamente, para a Transocean, companhia suíça a operar a plataforma.
Também a Câmara dos Representantes e o Senado anunciaram abrir investigações. Na semana passada, a BP anunciou a abertura do seu próprio inquérito ao acidente.
Ecologistas apelam contra projectos petrolíferos de ObamaAs organizações ecologistas Greenpeace e Amigos da Terra já abriram duas petições para pedir ao Presidente Barack Obama para deixar cair os seus planos de explorações petrolíferas off-shore. Estes projectos, anunciados a 31 de Março, pretendem autorizar a extracção de petróleo em áreas costeiras “que estão protegidas há décadas”, lembra a Greenpeace.
Os Amigos da Terra afirmam que a sua petição, que pede ao Presidente para reconsiderar o seu plano, já foi assinada por 16 mil pessoas.
“Esta tragédia lembra-nos que a exploração petrolífera offshore tem custos humanos, ambientais e económicos”, diz esta organização, em comunicado. “Os derrames não são só extremamente perigosos para a vida marinha mas também colocam em risco as comunidades costeiras e as indústrias locais”.