Grupo têxtil Maconde está cada vez mais perto da falência
A Macvila já não tem actividade desde Fevereiro, na sequência da declaração de insolvência e da suspensão dos contratos de trabalho dos 220 funcionários (por mais de três meses de salários em atraso). Os créditos reclamados ascendem a mais de 20 milhões de euros, e na lista dos maiores credores estão o BCP, a CGD, a Segurança Social e os trabalhadores.
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A Macvila já não tem actividade desde Fevereiro, na sequência da declaração de insolvência e da suspensão dos contratos de trabalho dos 220 funcionários (por mais de três meses de salários em atraso). Os créditos reclamados ascendem a mais de 20 milhões de euros, e na lista dos maiores credores estão o BCP, a CGD, a Segurança Social e os trabalhadores.
Ontem, realizou-se uma assembleia de credores, no Tribunal de Comércio de Vila Nova de Gaia, que ficou suspensa até 11 de Maio, por razões processuais. Na nova data, será discutido o relatório do administrador de insolvência, que vai propor a liquidação da empresa, por não ver outra solução para a têxtil.
A administração da Macvila, liderada por dois ex-quadros da empresa - Luísa Rocha e José Amorim - garantiram, em declarações ao PÚBLICO, que iriam contestar o pedido de insolvência, avançado por um credor, que reclamava 21 mil euros, mas não concretizaram essa intenção. Depois, a mesma administração pediu 30 dias para avançar com um plano de recuperação, o que também não aconteceu, obrigando o administrador de insolvência, Fernando Silva e Sousa, a ter de apresentar um plano aos credores, que vai assentar numa proposta de liquidação.
Apreensão de bensOntem, o tribunal passou para o administrador de insolvência a responsabilidade sobre a massa insolvente (património), devendo este, em cinco dias, proceder, ao "arrolamento e apreensão de bens" (entre os quais estão terrenos valiosos) à ordem do tribunal.
No âmbito do processo de falência da ex-Maconde, os dois quadros compraram, por um euro, a Macvila e a Mactrading, esta segunda também a operar no ramo da confecção com cerca de 150 trabalhadores.
Em relação a esta segunda empresa, que se mantém em actividade, a administração tomou a iniciativa de avançar com um pedido de insolvência, no Tribunal do Comércio de Vila Nova de Gaia, que chegou a ser aceite pelo juiz. Entretanto, na sequência de um pedido de contestação, o tribunal revogou a decisão de declaração de falência.
Segundo o pedido de declaração de insolvência, feito em Fevereiro, a Mactrading terá dívidas de três milhões de euros, bem menos que a Macvila.
Governo não apoiouA empresa pediu este ano apoio ao Ministério da Economia, elaborando um plano económico com esse propósito, mas esse apoio não chegou a ser aprovado e o Governo não explicou os motivos da decisão.
Relativamente a esta empresa, o Sindicato Têxtil do Norte está pouco confiante no seu futuro. Citado pela Lusa, o dirigente sindical Domingos Pinto defendeu ontem que a Mactrading "deverá ter também uma vida muito curta", apesar de actualmente estar ainda a laborar.
A aquisição da Macvila e Mactrading foi realizada em 2007, no âmbito do processo de falência da Maconde. A compra, pelo preço simbólico de um euro, foi "apadrinhada" pelo antigo ministro da Economia Manuel Pinho, que se envolveu no acordo que permitiu aos bancos aceitar o património como contrapartida das dívidas. O sindicato bancário disponibilizou cerca de seis milhões de euros para o relançamento da empresa.
Os novos donos, Luísa Rocha e José Amorim, que na altura afirmaram ter sido "empurrados" para a frente da empresa, tinham-se comprometido a fazer dois aumentos de capital, um no valor de 500 mil euros, para cerca de 1,4 milhões de euros, já realizado, e outro de cerca de três milhões de euros, para 4,5 milhões de euros, que não foi concretizado.
Apesar do pedido de esclarecimento feito pelo PÚBLICO, a empresa não esclareceu o motivo por que não concretizou o segundo aumento de capital.
Entretanto, a accionista e administradora Luísa Rocha é, em sociedade, proprietária de pelo menos três lojas de pronto-a-vestir, uma estratégia que tem sido apresentada aos trabalhadores como uma forma de encomendar trabalho às duas empresas. Em Fevereiro, o PÚBLICO questionou a gestora sobre a estratégia destas aquisições recentes, mas não obteve resposta.