The Family Jewels

Foto

Fisicamente, segundo ela própria diz, já a confundiram com Shakira e Catherine Zeta-Jones. Em termos de geração, ou melhor, de formada de candidatas à coroa pop, faz grupo com Florence And The Machine e Ellie Goulding. A voz, por outro lado, soa a meio caminho entre Lene Lovitch e Kate Bush. Já as canções andarão mais perto de Cindy Lauper e Nina Hagen. É muita referência cruzada, o que quer dizer que Marina soa imediatamente familiar, mas também e logo na estreia como mais ninguém. Ela tem 24 anos, é filha de pai grego e mãe galega, entretanto separados. Em miúda era fã de Britney Spears, decidiu ser igual a ela quando fosse grande. Quando realmente atingiu a maioridade, no entanto, bateu a várias portas sem nenhum sucesso e o sonho virou pesadelo. Entramos na fase que interessa: Marina comprou uma nova colecção de discos (Blondie, Patti Smith, Tom Waits) e uma laptop para exorcizar em canções toda uma galeria de fantasmas e frustrações. Também ajudou o seu sentido de perfeccionismo, que em adolescente a levou a perseguir até ao sofrimento a perfeição física e agora a gravar 482 takes da mesma canção. É daqui que vem "The Family Jewels", treze canções inveteradamente pop, artificiosas e plásticas, mas ao mesmo tempo inquietas e viscerais. Marina desanca nos estereótipos de beleza americana e nos clichés de docilidade feminina, ao mesmo tempo que assume que tem uma mente porca, que é atormentada por ideias doentias, que está condenada a mil danações. Claro que nada disto é muito coerente, nem original. Mas a visceralidade, o estado de possessão e a urgência intempestiva que emprega para os cantar são tremendamente convincentes. A voz é trémula, operática, quase sempre teatral. As canções assentam em teclados acetinados, elásticos ou barrocos, mas nunca andam longe de refrões trauteáveis. Acaba por ser impressionante a quantidade de canções incendiárias que Marina produz a partir deste guião de desassossego eletropop. A lista de projécteis apontados aos tops inclui "Are you satisfied", "Numb", "Mongli's Road" e "Hollywood", o mais recente single que conta com uma remistura acústica-sinfónica de Chily Gongales. Vejam o teledisco: ela de vestido curto e microfone em punho em pose de falsa bimba afectada, ele ao piano a fazer caretas como os grandes chefes de orquestra de outros tempos, tudo com a letra da canção a passar por cima numa língua de Leste. "The Family Jewels" será por certo um dos álbuns de estreia do ano. Mas depois deste teledisco fica a sensação de que não passa de um aquecimento, ou que Marina ainda está só a ganhar embalagem para realmente pintar a manta.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Fisicamente, segundo ela própria diz, já a confundiram com Shakira e Catherine Zeta-Jones. Em termos de geração, ou melhor, de formada de candidatas à coroa pop, faz grupo com Florence And The Machine e Ellie Goulding. A voz, por outro lado, soa a meio caminho entre Lene Lovitch e Kate Bush. Já as canções andarão mais perto de Cindy Lauper e Nina Hagen. É muita referência cruzada, o que quer dizer que Marina soa imediatamente familiar, mas também e logo na estreia como mais ninguém. Ela tem 24 anos, é filha de pai grego e mãe galega, entretanto separados. Em miúda era fã de Britney Spears, decidiu ser igual a ela quando fosse grande. Quando realmente atingiu a maioridade, no entanto, bateu a várias portas sem nenhum sucesso e o sonho virou pesadelo. Entramos na fase que interessa: Marina comprou uma nova colecção de discos (Blondie, Patti Smith, Tom Waits) e uma laptop para exorcizar em canções toda uma galeria de fantasmas e frustrações. Também ajudou o seu sentido de perfeccionismo, que em adolescente a levou a perseguir até ao sofrimento a perfeição física e agora a gravar 482 takes da mesma canção. É daqui que vem "The Family Jewels", treze canções inveteradamente pop, artificiosas e plásticas, mas ao mesmo tempo inquietas e viscerais. Marina desanca nos estereótipos de beleza americana e nos clichés de docilidade feminina, ao mesmo tempo que assume que tem uma mente porca, que é atormentada por ideias doentias, que está condenada a mil danações. Claro que nada disto é muito coerente, nem original. Mas a visceralidade, o estado de possessão e a urgência intempestiva que emprega para os cantar são tremendamente convincentes. A voz é trémula, operática, quase sempre teatral. As canções assentam em teclados acetinados, elásticos ou barrocos, mas nunca andam longe de refrões trauteáveis. Acaba por ser impressionante a quantidade de canções incendiárias que Marina produz a partir deste guião de desassossego eletropop. A lista de projécteis apontados aos tops inclui "Are you satisfied", "Numb", "Mongli's Road" e "Hollywood", o mais recente single que conta com uma remistura acústica-sinfónica de Chily Gongales. Vejam o teledisco: ela de vestido curto e microfone em punho em pose de falsa bimba afectada, ele ao piano a fazer caretas como os grandes chefes de orquestra de outros tempos, tudo com a letra da canção a passar por cima numa língua de Leste. "The Family Jewels" será por certo um dos álbuns de estreia do ano. Mas depois deste teledisco fica a sensação de que não passa de um aquecimento, ou que Marina ainda está só a ganhar embalagem para realmente pintar a manta.