Famílias de vítimas mortais de cheias em Belas acusam advogado de abandonar processo sem aviso
A 18 de Fevereiro de 2008, na sequência do mau tempo, a força das águas derrubou um muro em Belas, junto à Estrada Nacional 117, tendo o carro onde seguiam duas irmãs sido arrastado para o rio Jamor.
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A 18 de Fevereiro de 2008, na sequência do mau tempo, a força das águas derrubou um muro em Belas, junto à Estrada Nacional 117, tendo o carro onde seguiam duas irmãs sido arrastado para o rio Jamor.
Sara Gomes foi recolhida já sem vida de dentro do carro e o corpo de Zíbia Coimbra nunca chegou a ser encontrado, apesar de terem decorrido 15 dias de intensas buscas por parte das autoridades.
O advogado António Pragal Colaço surgiu como mandatário judicial das famílias, e anunciou durante meses que iria mover um processo contra a câmara de Sintra e a Estradas de Portugal, responsabilizando as duas entidades por homicídio por negligência.
Dois anos após o acidente, os viúvos das duas vítimas disseram à Lusa que julgavam que o processo estaria a decorrer em tribunal, mas a 28 de Fevereiro foram informados por Pragal Colaço de que já não representava as famílias.
“Pensávamos que o processo continuava a decorrer. Esta situação é muito difícil porque mexe com emoções”, disse à Lusa Mateus Gomes, um dos viúvos.
Carlos Nunes, amigo e porta-voz das famílias, adiantou que até domingo, 28 de Fevereiro, desconhecia a saída de António Pragal Colaço do processo que “nem sequer chegou a entrar em tribunal”, constatou.
“Recebi uma mensagem no telemóvel a dizer que já não era advogado do processo. Agora vamos procurar um advogado oficioso para tratar do assunto”, disse, adiantando que António Pragal Colaço “tinha oferecido gratuitamente os seus serviços em 2008”.
Contactado pela agência Lusa, António Pragal Colaço justificou a sua saída do processo por uma questão de “conflito de interesses”, dada a sua ligação ao Benfica (onde é comentador da Benfica TV) e a Fernando Seara (presidente da câmara de Sintra), mandatário da candidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do clube.
“Já não sou advogado das famílias há algum tempo por uma questão de ética “, garantiu Pragal Colaço, causídico que representou Dantas da Cunha no processo em que Vale e Azevedo (ex presidente do Benfica) foi condenado em 2006 a sete anos e meio de prisão.
António Pragal Colaço confirmou que o processo não chegou a dar entrada no tribunal, uma vez que durante o tempo decorrido após o acidente se encontrava a aguardar documentos solicitados à Câmara de Sintra e à Estradas de Portugal.
O causídico confirmou à Lusa que apenas informou as famílias no domingo, 28 de Fevereiro, de que já não seria o seu representante legal: “se calhar não tinha dito directamente mas tinha-lhes dado a entender isso”, adiantou.
O presidente da Câmara de Sintra admitiu à Lusa o estreitamento de relações com o advogado, por força do benfiquismo de ambos.
“Somos benfiquistas e temos convivido. Estimamo-nos muito um ao outro”, disse Fernando Seara.