PT assumiu o controlo da Taguspark em 2007 com apoio de Isaltino, Vara e Governo

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Aliança contranatura de Isaltino com a PT e entidades públicas envolveu o ministro Mariano Gago Pedro Cunha (arquivo)

As actas do conselho de administração (CA) da empresa mostram, contudo, que Isaltino foi o mentor de uma operação que veio a ser dirigida por Rui Pedro Soares, então administrador executivo da PT, e Armando Vara, na altura vice-presidente da CGD, e que conduziu, em 2007, à subalternização da autarquia e à entrega da Taguspark à PT e a entidades tuteladas pelo Governo.

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As actas do conselho de administração (CA) da empresa mostram, contudo, que Isaltino foi o mentor de uma operação que veio a ser dirigida por Rui Pedro Soares, então administrador executivo da PT, e Armando Vara, na altura vice-presidente da CGD, e que conduziu, em 2007, à subalternização da autarquia e à entrega da Taguspark à PT e a entidades tuteladas pelo Governo.

Liderada desde a sua criação pela Câmara de Oeiras, que detém 16 por cento do capital, a Taguspark, promotora do parque de ciência e tecnologia homónimo, tinha em 2006 um CA presidido por um quadro camarário, Nuno Vasconcelos, e estava, na prática, nas mãos da autarquia.

A oportunidade que a PT e os accionistas ligados ao Estado não perderam surgiu com uma guerra fratricida entre Isaltino (que o PÚBLICO não conseguiu ontem ouvir) e Vasconcelos, após a eleição do primeiro como independente, em 2005. Face à recusa de Vasconcelos (actual presidente do Instituto da Reabilitação Urbana) em se submeter às orientações do autarca, este tudo fez para afastar a sua equipa, que tinha um vogal da PT (5,9% do capital) e outro do BPI (11%).

Em Outubro de 2006, o autarca chegou a propor ao presidente da empresa que antecipasse voluntariamente, com os seus vogais, o termo do mandato (que terminava em Fevereiro de 2008), dizendo-lhe mesmo que seriam todos compensados com "indemnizações bastante favoráveis". Recusada esta sugestão, foi a vez de Rui Soares, ainda em 2006, comunicar a Vasconcelos a posição da PT a favor da sua saída do CA. O objectivo transmitido por Rui Soares, relatou o presidente ao CA e consta de uma das suas actas, era o de "permitir que fosse encontrada uma solução de gestão em completa consonância com a câmara, posição que teria também o apoio de outros accionistas, como seria o caso da CGD (10% do capital).

Perante esta insistência, o CA decidiu marcar uma assembleia geral (AG) que não chegou a realizar-se devido ao facto de alguns accionistas e o ministro da Ciência, Mariano Gago, se terem mostrado desfavoráveis. Apesar disso, a PT e a CGD, "em sintonia com a câmara", pediram logo a seguir a convocação de outra assembleia para destituir o CA e eleger um novo.

Esta nova tentativa foi bloqueada por Mariano Gago que, segundo se lê na acta de 10 de Janeiro de 2007, se reuniu "com representantes dos accionistas Instituto Superior Técnico (prof. Matos Ferreira) e Universidade Técnica de Lisboa (prof. Lopes da Silva) e dos accionistas com participação pública na PT (dr. Rui Pedro Soares) e CGD (dr. Armando Vara)". Diz ainda o documento que, "tendo presente a posição manifestada pelo ministro em nome do Governo", a PT e a CGD retiraram o pedido de convocação da assembleia.

Já em Março, a PT contra-ataca, sempre com a câmara e a CGD, propondo novamente a destituição e causando a "perplexidade" do CA, "tendo em conta as recomendações expressas do ministro Mariano Gago".

O volte-face surge no fim de Março, dando o prof. Matos Ferreira, então presidente do IST, conta ao CA dos "contactos mantidos com o ministro da Ciência e com o presidente da PT, dr. Henrique Granadeiro" a propósito da destituição do concelho. Nos termos da acta, Mariano Gago deixou aí de se opor aos accionistas que queriam afastar o CA e deu mesmo uma "orientação no sentido de os accionistas IST e da UTL participarem no processo de negociação em curso".

Contactado ontem pelo PÚBLICO sobre se não havia aqui uma situação de ingerência do Governo na vida da empresa e de violação da autonomia universitária, o ministro respondeu por escrito, através do seu gabinete: "O ministério nunca deu, nem tinha competência para dar, quaisquer orientações à UTL ou ao IST, entidades universitárias autónomas, em matérias relacionadas com decisões da AG do Taguspark. Cabe pois aos responsáveis por essas entidades informar sobre as posições por si tomadas nesta matéria."

Dois meses depois a AG destituiu Nuno Vasconcelos, Simões Vasco e André de Oliveira - que levaram em conjunto perto de meio milhão de euros de indemnização - e nomeou o novo concelho. À cabeça ficou Américo Thomati (PT) e como vogais ficaram Tavares de Castro, um colaborador de Isaltino, e Paulo Lages, um quadro técnico da RTP amigo e antigo colega de José Sócrates, num curso de gestão de empresas.

No fim de Maio passado, 15 dias antes de começar a tratar do contrato de Luís Figo com a Taguspark, João Carlos Silva, ex-deputado do PS e ex-administrador da RTP, substituiu Paulo Lajes. Pelo meio, em Maio de 2008, a operação alargou-se à área-chave da gestão imobiliária do Taguspark, passando a administração da sua subsidária Promitagus a integrar Thomati, uma ex-adjunta e um ex-secretário de Estado de Vara e ainda o dirigente socialista e advogado da PT Paulo Penedos, além de um velho colaborador de Isaltino.