Governo regional da Madeira relativiza temporal para não afastar turistas

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Estão 17 mil turistas no arquipélago com 245 mil habitantes Enric Vives-Rubio (arquivo)

Com um número indefinido de desaparecidos, que no balanço governamental de 250 passaram para apenas quatro ao final da manhã de ontem e logo à tarde subiram para 32, torna-se evidente a preocupação de minimizar as consequências do temporal para evitar repercussões no turismo, a principal actividade económica regional. "Vamos colocar fotografias de turistas a passear nas ruas do Funchal, para mostrar que a situação na Madeira não é caótica", revelou a secretaria regional dos Transportes e Turismo, Conceição Estudante, que tem sido a porta-voz do governo nos periódicos briefings com os jornalistas.

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Com um número indefinido de desaparecidos, que no balanço governamental de 250 passaram para apenas quatro ao final da manhã de ontem e logo à tarde subiram para 32, torna-se evidente a preocupação de minimizar as consequências do temporal para evitar repercussões no turismo, a principal actividade económica regional. "Vamos colocar fotografias de turistas a passear nas ruas do Funchal, para mostrar que a situação na Madeira não é caótica", revelou a secretaria regional dos Transportes e Turismo, Conceição Estudante, que tem sido a porta-voz do governo nos periódicos briefings com os jornalistas.

"A hotelaria da Madeira não foi afectada pelo temporal e mantém todas as condições de funcionamento com segurança. Os estabelecimentos hoteleiros, na sua generalidade, estão operacionais e segundo os contactos hoje efectuados pelos nossos serviços, não foram reportadas dificuldades nem problemas a destacar", insistiu Estudante, que estima em cerca de 17 mil os turistas no arquipélago com 245 mil habitantes.

A morte de uma turista britânica, uma das 29 vítimas já identificadas que foi arrastada pelas águas quando descia o monte, parece não ter tido grande impacto nas unidades hoteleiras -não registaram saídas antecipadas de hóspedes devido à tragédia. E foi igualmente minimizada pelo governo madeirense que, com receio de que a imagem da catástrofe venha a assustar os turistas, evita decretar o estado de calamidade pública. "Este estado de coisas não o justifica", comentou Conceição Estudante, sublinhando que os auxílios do continente e da União Europeia, já anunciados, não dependem dessa formalidade. Idêntica preocupação foi revelada por Alberto João Jardim há 20 anos, quando procurou ocultar a "maré negra" no Porto Santo, acusando os jornalistas de prejudicarem a economia regional com a divulgação dessa ocorrência.

Paralelamente com a operação de restabelecer as acessibilidades, o executivo madeirense e o município funchalense têm acelerado os trabalhos de limpeza das principais ruas e avenidas da Baixa da cidade, envolvendo trabalhadores da autarquia e jovens voluntários. "Como símbolo desta recuperação vamos preparar a Festa da Flor para celebrar a reconstrução da Madeira", anunciou Estudante, que lançou um convite aos continentais e estrangeiros para visitarem a região naquele evento do calendário turístico, entre 16 e 18 de Abril.

Procura exaustiva

Agora em consonância absoluta com o governo regional - "é ao senhor presidente que compete controlar toda a situação", lembra Estudante -, também os autarcas das zonas mais afectadas pelos temporais procuram minimizar os efeitos do temporal, cuja dimensão e gravidade aumentam à medida que a reabertura das estradas permite conhecer a realidade não revelada também pela inoperacionalidade das telecomunicações. Com ainda 18 feridos internados no Hospital Central do Funchal, por desvendar continua a existência ou não de cadáveres entre a lama e pedras que transbordaram das três ribeiras que percorrem a cidade e no parque de estacionamento do Centro Comercial Anadia, perto do Mercado dos Lavradores, inundado pelas águas lamacentas do ribeirinho e da ribeira de Santa Luzia.

A informação sobre a existência de mortos nos dois pisos subterrâneos daquele centro comercial foi desmentida ao PÚBLICO por António Henriques, administrador da empresa proprietária e do Funchal Centrum (Dolce Vita), localizado a oeste da Baixa funchalense, junto à ribeira de São João, outro dos postos críticos da tragédia. Prossegue hoje a operação de extracção da água e mergulhadores da GNR tentarão atingir a segunda cave na tentativa de encontrar corpos, uma procura que está também está a ser feita pela Marinha na baía da capital madeirense e na Ribeira Brava.

Informações também desmentidas prontamente pelo governo apontavam para a iminente evacuação da população do Funchal, face a um (não-confirmado) agravamento das condições meteorológicas nos próximos dias, em termos de pluviosidade e intensidade da velocidade do vento. Como medida preventiva, cerca de 50 pessoas foram obrigadas a abandonar as suas residências no sítio das Murteiras, na Ribeira Brava, devido à ameaça de um deslizamento de terras de uma encosta agrícola. Na Ponta do Sol, o presidente da câmara mandou evacuar a zona mais baixa da localidade por uma questão de segurança e não de risco real. "Como chove muito lá em cima, a ribeira cresceu, há perigo de enxurradas devido a desabamento de zonas instáveis", disse Rui Marques, que, após inspecção do local por técnicos do Laboratório de Engenharia, garantiu haver condições de segurança para o regresso às habitações.

Um apelo para que os comerciantes reabrissem os seus estabelecimentos na muito atingida baixa da Ribeira Brava foi lançado ontem pelo presidente da Câmara da Ribeira Brava. Neste concelho foram realojadas 120 pessoas e no Funchal 250, cujas habitações estão destruídas ou muito danificadas por derrocadas que continuaram a registar-se nos dois dias posteriores ao temporal, dificultando nalgumas localidades o reabastecimento da água potável e da energia eléctrica, problema que ainda afecta parte do Curral das Freiras, da Ribeira Brava e das zonas baixas do Funchal, entre o Campo da Barca e o centro Anadia.

O aeroporto da Madeira e o Porto do Funchal mantém-se operacionais e as ligações dos transportes públicos estão a ser restabelecidas progressivamente no concelho do Funchal. Os concelhos da zona leste estiveram sempre acessíveis e agora apenas se registam dificuldades de acesso ao concelho da Ribeira Brava e Ponta do Sol.