Economista acusa Governo de ter utilizado recursos do Estado na campanha do PS
Cinco meses depois das eleições legislativas que deram uma maioria relativa a José Sócrates, um professor de Economia do Porto, que apoiou o PS, decidiu denunciar "a promiscuidade" da campanha socialista, na qual supostamente foram utilizados meios e recursos do Estado para "acções de propaganda política".
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Cinco meses depois das eleições legislativas que deram uma maioria relativa a José Sócrates, um professor de Economia do Porto, que apoiou o PS, decidiu denunciar "a promiscuidade" da campanha socialista, na qual supostamente foram utilizados meios e recursos do Estado para "acções de propaganda política".
Carlos Santos, professor na Universidade Católica do Porto, aponta nomes de assessores, de chefes de gabinete de ministros, como Augusto Santos Silva e Mário Lino. E fala mesmo do envolvimento pessoal de secretários de Estado. O centro nevrálgico da produção de informação favorável ao Governo residia num blogue, o Simplex, criado pelo agora deputado João Galamba em Junho do ano passado e desactivado pouco depois das legislativas de Setembro. Segundo revelou ontem ao PÚBLICO, "toda a informação proveniente de fontes governativas era enviada a João Galamba e era reproduzida usando meios do Estado", suportada na rede informática interna do Governo. O mesmo tipo de informação seria difundido noutros blogues, como o Câmara Corporativa, "alimentado por assessores" governamentais. Carlos Santos, um entre os mais de 40 colaboradores do Simplex, diz que recebeu quatro e-mails de João Galamba, "vindos da hierarquia governativa", o que considerou estranho. Um desses documentos, garante, terá sido enviado directamente a Galamba por Filipe Nunes, na altura assessor do ex-ministro dos Assuntos Parlamentares. "Outros", acrescenta, "eram reencaminhados do chefe de gabinete do ministro Mário Lino, Guilherme Dray, hoje chefe de gabinete do primeiro-ministro."
Os temas versados relacionavam-se com questões polémicas, designadamente o caso BPN. "Não eram documentos para uma tomada de decisão, não era um estudo sobre o BPN; eram perguntas mais frequentes da oposição sobre o BPN", explica, referindo que, "por vezes, o encaminhamento dos e-mails era feito directamente por governantes, como aconteceu com Fernando Medina, então secretário de Estado da Indústria e Desenvolvimento. Confrontado pelo PÚBLICO, o gabinete do actual secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional lembrou que Fernando Medina foi candidato a deputado pelo círculo eleitoral de Beja e, como tal, "com certeza que participou na campanha, até porque é dirigente nacional do PS". Todavia, rejeita que se tratasse de informação confidencial do Ministério das Obras Públicas, então tutelado por Mário Lino.
"No blogue havia um assessor do Ministério das Finanças que tinha uns dados muito curiosos e que me pareceram muito complicados de se obter. Esses documentos vinham directamente do Ministério das Finanças, porque a pessoa que colaborava no Simplex era assessora do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, filho do presidente do Tribunal de Contas", diz Carlos Santos.
Esclarecendo que "o Simplex nasceu porque um grupo de bloggers, com opiniões sobre política e sobre o que queriam para o país, resolveram apoiar o PS", o deputado João Galamba contra-ataca. "É pouco sério querer apresentar como algo inusitado a troca de e-mails com informação técnica e argumentários, durante a campanha eleitoral, entre um candidato a deputado [ele próprio] e membros de gabinetes, mais ainda quando no blogue em causa escreviam assiduamente assessores do Governo", afirma. Sem aludir à acusação de que o PS utilizou recursos do Estado, Galamba devolve as críticas, advertindo que "da esquerda à direita, todos os bloggers sabem que quando alguém precisa de escrever um texto é normal pedir ajuda a pessoas conhecidas que sejam especialistas em determinadas matérias".