Crítica: Arctic Monkeys, um caso especial
Os ecos da vitória do FC Porto sobre o Sporting chegavam, via telemóvel, ao Coliseu do Porto. Antes dos Arctic Monkeys entrarem em palco gritava-se “golo!” e entoavam-se cânticos futebolísticos. O ambiente eufórico não mais largou a sala apinhada, com a multidão a fazer de cada “riff” matéria trauteável, potencial melodia para estádio em dia de jogo. Quando assim é sabemos que estamos perante um fenómeno pop e foi assim, na noite de ontem, o primeiro dos dois concertos que os Arctic Monkeys vieram dar a Portugal (o segundo é hoje, no Campo Pequeno, em Lisboa).
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Os ecos da vitória do FC Porto sobre o Sporting chegavam, via telemóvel, ao Coliseu do Porto. Antes dos Arctic Monkeys entrarem em palco gritava-se “golo!” e entoavam-se cânticos futebolísticos. O ambiente eufórico não mais largou a sala apinhada, com a multidão a fazer de cada “riff” matéria trauteável, potencial melodia para estádio em dia de jogo. Quando assim é sabemos que estamos perante um fenómeno pop e foi assim, na noite de ontem, o primeiro dos dois concertos que os Arctic Monkeys vieram dar a Portugal (o segundo é hoje, no Campo Pequeno, em Lisboa).
A popularidade dos Arctic Monkeys é um caso sem paralelo, sobretudo quando nos lembramos que só lançaram o primeiro disco em 2006. Desde a estreia, “Whatever People Say I Am, That's What I'm Not”, a banda inglesa revelou-se um caso especial. No Porto, mostraram que o fenómeno está para durar – algo que já tinham provado com “Humbug”, o seu terceiro álbum, editado em 2009. Na primeira parte, os Mystery Jets tiveram pouco tempo para dar mais do que boas pistas, com a sua pop de guitarras saltitantes e alguma pompa à anos 1980 que lhes fica bem.
As características da música dos Arctic Monkeys, rapazes entre os 23 e os 24 anos, permanecem, no essencial, as mesmas: pop-rock ultravitaminado, com energia punk depurada de qualquer carga política ou de subversão, sabedor da velha tradição pop inglesa de fazer de quotidianos banais matéria para canções (lembremo-nos dos Blur e dos Pulp) e com mestria na confecção de “riffs” memoráveis e de canções que fazem das limitações vocais de Alex Turner um trunfo (dão-lhe aura de pós-adolescente reguila).
No Coliseu do Porto houve tudo isso, mas também uma banda capaz de se aventurar por novos caminhos. Foi o caso de “Cornerstore”, fabulosa canção com melancolia à Smiths a espreitar aqui e ali, e “Secret Door”, com guitarras preguiçosas, tom épico no refrão, colhendo influências das experiências mais orquestrais (se bem que ainda pop) dos Last Shadow Puppets, projecto do vocalista Alex Turner, e explosão de “confetis” no final.
Foi nos momentos mais rock que o grupo elevou o concerto à condição de celebração, sobretudo no populoso contingente sub-20. “Crying Lightning”, primeiro “single” de “Humbug”, mostrou ter condições para ser um êxito de longa duração, graças ao seu tom circense e ao solo gingão à Queens Of The Stone Age (Josh Homme, dos Queens, co-produziu o álbum).
Sem surpresas, "I Bet You Look Good on the Dancefloor" e "When the Sun Goes Down" foram os momentos mais agitados do concerto, que cumpriu, sem ser superlativo. As condições acústicas da sala, demasiado propensa ao eco, não ajudaram a fazer justiça à música directa e seca dos Arctic Monkeys.