Google: o custo de sair da China
A Google anunciou que estará nas próximas semanas em conversas com as autoridades chinesas para saber se é possível manter um motor de busca sem ser obrigada a censurar os resultados das pesquisas. Caso não haja acordo, a empresa deverá encerrar a actividade neste país.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A Google anunciou que estará nas próximas semanas em conversas com as autoridades chinesas para saber se é possível manter um motor de busca sem ser obrigada a censurar os resultados das pesquisas. Caso não haja acordo, a empresa deverá encerrar a actividade neste país.
Embora executivos da Google já tenham garantido que a empresa não está sequer a fazer considerações de carácter financeiro, sair do mercado chinês não significa perder, para já, muito dinheiro. E até pode ser benéfico para a imagem da Google.
Em 2010, a Google poderia conseguir cerca de 600 milhões de dólares (414 milhões de euros) em receitas na China, estimam alguns analistas (por comparação, um relatório encomendado recentemente pelo governo francês apontava para receitas neste país na ordem dos 800 milhões anuais).
De acordo com a informação financeira mais recente, a Google totalizou, em 2008, um pouco mais de 15700 milhões de euros em receitas. Nos três primeiros trimestres de 2009, as receitas foram de quase 12 mil milhões. Mesmo comparando as previsões de receitas para 2010 com o obtido em 2008, a Google chinesa representaria menos de três por cento do total de receitas da multinacional.
Para além disto, parte destas receitas nem sequer está em risco.
Deixar o mercado chinês significa encerrar a versão chinesa do motor de busca (o Google.cn), abandonar os serviços que estejam traduzidos (localizados é o termo usado no meio) e, eventualmente, encerrar as instalações no local.
Contudo, se as autoridades chinesas o permitirem, os cibernautas poderão continuar a usar os serviços Google (como o GMail) e a aceder ao motor de busca internacional, o Google.com.
"Larga percentagem" das receitas na China são de empresas chinesas que anunciam nos motores de busca de outros países e não no Google.cn, explicou ao PÚBLICO um porta-voz da empresa.
Sem revelar números, a mesma fonte sublinhou que "as receitas lá não são relevantes para o negócio".
Em segundo lugarPor outro lado, na China, e contrariamente ao que acontece em boa parte do mundo, a Google não é dona do motor de busca mais usado. Com uma quota de mercado a rondar os 63 por cento, a liderança do mercado é do Baidu, um motor de busca chinês. O motor da Google surge apenas em segundo lugar, com uma quota que está próxima dos 30 por cento.
Quanto entrou na China, em 2006, a Google foi fortemente criticada por ter aceitado filtrar resultados das pesquisas no motor de busca, de forma a excluir, por exemplo, páginas com referências à independência do Tibete ou ao massacre de Tiananmen.
A notícia já recebeu o aplauso de cibernautas. Na China, e em sinal de apoio, foram até depositadas flores junto das instalações da empresa.
Os mercados é que não reagiram bem ao anúncio: às 17h06 (hora de Lisboa) as acções da Google sofriam uma queda de 1.52%, para os 581,49 dólares.
Notícia actualizada às 18h11