Oliver Stone quer dar uma nova imagem de Hitler

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Quase todos os projectos em que se envolve são polémicos e The Secret History Of America, uma mini-série documental, com cerca de dez horas de duração, que estreará este ano nos Estados Unidos, no canal por cabo Showtime, não será diferente.

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Quase todos os projectos em que se envolve são polémicos e The Secret History Of America, uma mini-série documental, com cerca de dez horas de duração, que estreará este ano nos Estados Unidos, no canal por cabo Showtime, não será diferente.

Pelo menos, os ecos da conferência de imprensa na Associação de Críticos de Televisão, onde foi apresentada a série, no domingo, em Pasadena, EUA, dão a entender isso mesmo.

O realizador americano Oliver Stone, com 40 anos de carreira e muitas controvérsias no currículo, afirmou que Hitler foi "um bode expiatório fácil, do qual se abusou" ao longo da História, antecipando que a série irá mostrar como algumas empresas americanas se envolveram no financiamento do partido nazi.

O americano, três vezes vencedor do Óscar para melhor realizador, pretende contrariar as narrativas históricas convencionais que, em seu entender, proliferam nas escolas americanas e nos media, complexificando o papel de figuras como Hitler ou Estaline, mostrando que foram produto de um contexto preciso, onde diversos poderes e forças intervieram.

"Não podemos julgar as pessoas apenas como sendo "más" ou "boas". [Hitler] é o produto de uma série de acções. É uma relação de causa e efeito. Muitos americanos não entendem a relação entre a I e a II Guerras Mundiais", acrescentou o realizador, acrescentando que "Estaline é outra história. Não diria que foi um herói, mas há que considerá-lo factualmente pelos seus feitos. Ele lutou contra a máquina alemã mais do que qualquer outro".

A aproximação, relativista, à figura de Adolf Hitler, tentando enquadrá-lo enquanto resultado de um momento histórico, não significa, no entanto, que a visão que vier a ser apresentada é positiva. Disse-o Peter Kuznick, o professor de História que integra o projecto, e que clarificou as palavras de Oliver Stone na conferência.

"Ele não está a dizer que iremos apresentar uma visão positiva de Hitler. Mas sim que iremos descrevê-lo como fenómeno histórico e não como alguém que apareceu vindo do nada", explicou.

Seja como for, a polémica é inevitável. E Oliver Stone está consciente dela, afirmando esperar "ataques ignorantes" à série documental, principalmente vindo de sectores conservadores americanos.

O realizador americano parece viver bem com o debate. Depois de ter recebido dois Óscares por filmes acerca da guerra do Vietname ("Platoon" e "Nascido a 4 de Julho"), virou a lente revisionista para presidentes americanos como John F. Kennedy ("JFK") e George W. Bush ("W"), tendo sido autor também de outras obras muito discutidas, como "Wall Street", sobre o mundo da finança, ou "World Trade Center", acerca do 11 de Setembro.

No ano passado, Oliver Stone pisou a passadeira vermelha do Festival de Veneza, na companhia do controverso Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na estreia do documentário "South of the Border".