Inteligente passo em frente
Os Vampire Weekend chegam então ao segundo álbum, o tal difícil segundo álbum, se confiarmos nas anciãs regras da pop, e, antes mesmo de o ouvirmos, já sabemos que não provocará a mesma euforia que a estreia homónima. Contra isso, fizessem o que fizessem, nada podiam os Vampire Weekend - o primeiro álbum, com os seus "Mansard roof" e os seus "Cape Cod kwassa kwassa", com aquela forte luminosidade pop filtrada de audições atentas do Paul Simon "africano" de "Graceland", com música contagiante e canções em estado de graça foi surpresa irrepetível.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Os Vampire Weekend chegam então ao segundo álbum, o tal difícil segundo álbum, se confiarmos nas anciãs regras da pop, e, antes mesmo de o ouvirmos, já sabemos que não provocará a mesma euforia que a estreia homónima. Contra isso, fizessem o que fizessem, nada podiam os Vampire Weekend - o primeiro álbum, com os seus "Mansard roof" e os seus "Cape Cod kwassa kwassa", com aquela forte luminosidade pop filtrada de audições atentas do Paul Simon "africano" de "Graceland", com música contagiante e canções em estado de graça foi surpresa irrepetível.
Ainda assim, há algo clássico na forma como "Contra", fiel ao "look" de universitários letrados (como sabemos, não é redundância) dos Vampire Weekend, se alinha na perfeição com aquele que o antecedeu. Menos exuberante e menos festivo, mas imediatamente reconhecível, é um inteligente passo em frente.
Recordemos os Strokes, outros célebres nova-iorquinos desta década. Depois do terramoto provocado por "Is This It?", gravaram "Room on fire" e conseguiram prolongar o encantamento. Conseguiram-no da forma aparentemente mais fácil, ou seja, criaram o segundo álbum como reflexo detalhado do primeiro. Pagaram por isso: hoje, naturalmente, o reflexo é memória esbatida perante o corpo reflectido.
Pois bem, os Vampire Weekend fizeram o mesmo, com uma diferença substancial. Observaram o reflexo no espelho e caracterizaram-no, maquilharam-no, moldaram-no até ao ponto em que, reconhecendo-o, não o confundíssemos com aquilo que era antes da operação.
"Horchata", com as suas marimbas, tem aquela textura fantasiosa que é felicidade sublimada em dança e "Holiday", com o baixo gingão e as guitarras em tangente indie às "africanices" habituais da banda, é um adorável pedaço de pop a pedir o Verão que há-de chegar - e ainda há o contagiante frenesim do single "Cousins", com bateria a rufar, guitarras a silvar e os Devo a espreitar por trás da cortina. Não fosse o contexto, todas elas poderiam ser aquilo que lhes conhecíamos antes. Em "Contra", servem como ponte. Porque nele se ouvem menos guitarras e mais electrónicas, porque aqui há samples de M.I.A. (na melancólica "Diplomat son") e sintetizadores erguidos ao alto como secção de metais eufórica (a magnífica "Run").
Ao ouvir "Contra", recordamo-nos que, este ano, Rostam Batmanglij, multi-instrumentista e produtor dos Vampire Weekend, se apresentou num delírio estival sintético chamado Discovery. Talvez venha daí o equilíbrio "electrónico orgânico" do álbum - vem daí certamente o Auto-Tunes na voz de Ezra Koenig na lenta e encantatória "California english".Certo é que em "Contra", os Vampire Weekend temperam a euforia com contenção, contrapõem sintetizadores borbulhantes às guitarras luxuriantes e, sendo aquilo que nos levou a celebrá-los, mostram que também podem ser algo mais...