A década em que as ilusões morreram

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Atentados de 11 de Setembro de 2001 Ray Stubblebine/Reuters

Muito provavelmente, o pessimismo. E também a globalização. Mais do que as catástrofes, contou o modo como olhámos para elas, do Katrina ao tsunami do Índico. Mais do que conflitos, enfrentámos atentados, guerras simbólicas que depois deram origem a guerras reais. Do 11 de Setembro à crise económica de 2008, vimos o eixo do mundo deslocar-se. Da "nova ordem mundial" anunciada depois do fim da URSS para uma guerra religiosa global desencadeada pelo fundamentalismo islâmico; do domínio do Ocidente ao declínio da potência americana e à emergência incontornável dos novos actores asiáticos, China e Índia. Entre o ataque às Torres Gémeas e a falência do Lehman Brothers, perdemos as nossas referências e não fomos incapazes de inventar balizas novas. Enquanto ficámos sem saber como pensar, nunca os seres humanos comunicaram tanto como agora. Dos protestos nas ruas de Teerão inscritos no YouTube à banalização da blogosfera ou das redes sociais, passámos a viver ainda mais em tempo real. Mais importante ainda, as pessoas apropriaram-se da comunicação e do poder que esta representa e podem projectá-lo à escala planetária. Mas no mundo desta década, uma capacidade maior para fazer perguntas não foi capaz de encontrar ou de ouvir respostas sobre o futuro.

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Muito provavelmente, o pessimismo. E também a globalização. Mais do que as catástrofes, contou o modo como olhámos para elas, do Katrina ao tsunami do Índico. Mais do que conflitos, enfrentámos atentados, guerras simbólicas que depois deram origem a guerras reais. Do 11 de Setembro à crise económica de 2008, vimos o eixo do mundo deslocar-se. Da "nova ordem mundial" anunciada depois do fim da URSS para uma guerra religiosa global desencadeada pelo fundamentalismo islâmico; do domínio do Ocidente ao declínio da potência americana e à emergência incontornável dos novos actores asiáticos, China e Índia. Entre o ataque às Torres Gémeas e a falência do Lehman Brothers, perdemos as nossas referências e não fomos incapazes de inventar balizas novas. Enquanto ficámos sem saber como pensar, nunca os seres humanos comunicaram tanto como agora. Dos protestos nas ruas de Teerão inscritos no YouTube à banalização da blogosfera ou das redes sociais, passámos a viver ainda mais em tempo real. Mais importante ainda, as pessoas apropriaram-se da comunicação e do poder que esta representa e podem projectá-lo à escala planetária. Mas no mundo desta década, uma capacidade maior para fazer perguntas não foi capaz de encontrar ou de ouvir respostas sobre o futuro.

Foi também assim a década portuguesa. Inaugurada sob o signo de uma catástrofe, a queda na ponte de Entre-os-Rios, e pela expressão que António Guterres usou para se despedir do poder, no final desse sombrio ano de 2001: "o pântano". Passámos todos estes anos a tentar fugir dele, sem encontrar a saída. Para o défice, para a reforma do Estado, para o modelo de desenvolvimento económico, até a crise internacional nos ter atirado ainda mais para o fundo. Ao mesmo tempo, a sucessão infindável de escândalos judiciais, todos fortemente mediatizados e quase nenhum resolvido nos tribunais, abalaram a confiança nas instituições e aumentaram a distância entre governantes e governados.

No país, como no mundo, é uma sociedade à procura da confiança, de um sentido e de uma ideia de futuro.

Esta década que acaba (sem acabar) foi sobretudo a do fim das ilusões. Do fim da ilusão da prosperidade ininterrupta, do fim da ilusão de um mundo sem conflitos, do fim da ilusão de um mundo cuja história podia acabar. Voltámos à realidade da história que não se deixa aprisionar por um discurso e de um presente que passou a ser escrito por culturas diferentes, todas com uma vida própria. Ainda não temos as palavras certas para viver nesse mundo. Guardemos portanto as da década que passou. As que designam os principais pontos de viragem da história, os novos termos que entraram na linguagem de todos os dias e alguns dos nomes que marcaram os últimos dez anos.