Os rapazes do leme
"Os putos são espertos hoje em dia. Não estão interessados em curtir apenas heavy metal, gótico, hip-hop. Subscrevem a inovação", dizia, em Julho, Wesley Pentz, conhecido como Diplo, à revista "Fader". Pentz falava da sua Mad Decent, editora cujo catálogo inclui propostas tão diversas como o rock agressivo dos Popo e o dancehall futurista dos Major Lazer, mas o que diz podia aplicar-se à portuguesa Meifumado, que completou em 2009 cinco anos de vida.
Não vamos exagerar e dizer que cinco anos são uma eternidade no actual cenário da edição de música. Não são. Mas são uma idade já respeitável, que a Meifumado comemorou com a compilação "5 Anos 13 Merdas".
O disco confirma a crescente diversidade do catálogo da Meifumado, que nos primeiros tempos se inclinava para as chamadas "novas tendências" da música electrónica. Encontramos esses territórios nos ambientes "cool", mais ou menos "jazzísticos", de PZ, Type, Preto e da novidade MC Jihad (com Kalaf, cúmplice da editora), mas também o rock irrequieto e libertário dos AbztraQt Sir Q e dos Selfish Cunt, o country-qualquer-coisa dos Paco Hunter e o electro insinuante da londrina Sam Amant, outra estreante na Meifumado.
"O objectivo era ser uma editora à antiga, uma Atlantic, uma Electra, em que a editora desaparece - há os artistas, mas não há uma estética definida. Isso sempre esteve na nossa cabeça, mas começa-se a perceber agora", diz Paulo Zé Pimenta, um dos responsáveis da editora, membro dos Paco Hunter e da Zany Dislexic Band e autor dos projectos PZ e Pplectro.
O contexto actual fomenta a mistura de géneros, afirmam quatro dos cinco membros da editora, em conversa com o Ípsilon num café da Foz do Porto. Lembram casos como a Warp e a Matador, editoras que partiram de um som relativamente reconhecível para um catálogo mais heterodoxo sem pôr em causa a sua coerência. "Nos anos 90 havia muitas editoras de nicho. Não haver faz sentido no panorama actual, mas, no nosso caso, é uma questão essencial. Eu nunca ouvi um único estilo de música na minha vida. Não conseguiria ter uma editora só de um género", corrobora o irmão, Zé Nando Pimenta (Paco Hunter, Type e Zany Dislexic Band).
O barco ainda não afundou
Nascida quando a Internet já tinha feito mossa na estrutura tradicional da indústria musical, a Meifumado aposta numa estrutura pequena, mas ágil, formada por pessoas que se conhecem e tocam juntas desde miúdos. Tudo é assegurado por eles ou pelos amigos. Por exemplo: Zé Nando cuida do estúdio da Meifumado, onde já gravaram outros artistas, como Sam The Kid, enquanto Paulo Zé se ocupa do grafismo dos discos.
Sabem que as coisas podem acabar de um momento para o outro - o pequeno manifesto da editora diz "Venham ver o barco a afundar!". "[O barco] Ainda não afundou porque fazemos um pouco de tudo e arranjamos pessoas que fazem vídeos e capas porque gostam da nossa música", justifica Paulo Zé Pimenta. "Começámos com essa atitude porque olhámos à nossa volta e a indústria estava a cair, os discos a venderem menos e menos, toda a gente assustada", acrescenta Zé Nando.
A indústria tradicional ainda se mantém à tona«, mas está "claramente a arrastar-se e moribunda", sobretudo no que toca à venda de discos, acrescenta. "E está a haver uma fusão de tudo. As editoras estão a entrar nos terrenos das agências e vice-versa; as agências estão a editar discos para poderem pôr bandas ao vivo".
"Ninguém sabe o que se vai passar. Não acredito em ninguém que diga que sabe o que se vai passar", prossegue. "Há uma confusão geral". E remata, a sorrir: "A Meifumado sempre foi confusa. Por isso, estamos completamente à vontade". A editora passou a arranjar concertos para as suas bandas e a tratar da sua imagem, dos telediscos e de outros itens da carreira.
Recentemente, Zé Nando, Paulo Zé e Duarte Araújo decidiram abandonar os antigos trabalhos e trabalhar em exclusivo para a Meifumado. A maior disponibilidade explica o relativo frenesim editorial dos últimos tempos: para além da compilação, a Meifumado lançou os álbuns de estreia dos Paco Hunter e MC Jihad (novo projecto de João Roquette, também Preto, cujo trabalho é disponibilizado gratuitamente no "site" da editora). Para 2010, espera-se a estreia dos Guta Naki, pop aberta a contaminações do fado, do tango e do jazz.
Ainda não conseguem ser remunerados pelo trabalho que fazem, mas a Meifumado é uma "questão de fé e de persistência". "Acontece que não sabemos fazer mais nada. Estamos um bocado presos a isto", diz Zé Nando Pimenta. E ri-se, sem sinais de temer o futuro.
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"Os putos são espertos hoje em dia. Não estão interessados em curtir apenas heavy metal, gótico, hip-hop. Subscrevem a inovação", dizia, em Julho, Wesley Pentz, conhecido como Diplo, à revista "Fader". Pentz falava da sua Mad Decent, editora cujo catálogo inclui propostas tão diversas como o rock agressivo dos Popo e o dancehall futurista dos Major Lazer, mas o que diz podia aplicar-se à portuguesa Meifumado, que completou em 2009 cinco anos de vida.
Não vamos exagerar e dizer que cinco anos são uma eternidade no actual cenário da edição de música. Não são. Mas são uma idade já respeitável, que a Meifumado comemorou com a compilação "5 Anos 13 Merdas".
O disco confirma a crescente diversidade do catálogo da Meifumado, que nos primeiros tempos se inclinava para as chamadas "novas tendências" da música electrónica. Encontramos esses territórios nos ambientes "cool", mais ou menos "jazzísticos", de PZ, Type, Preto e da novidade MC Jihad (com Kalaf, cúmplice da editora), mas também o rock irrequieto e libertário dos AbztraQt Sir Q e dos Selfish Cunt, o country-qualquer-coisa dos Paco Hunter e o electro insinuante da londrina Sam Amant, outra estreante na Meifumado.
"O objectivo era ser uma editora à antiga, uma Atlantic, uma Electra, em que a editora desaparece - há os artistas, mas não há uma estética definida. Isso sempre esteve na nossa cabeça, mas começa-se a perceber agora", diz Paulo Zé Pimenta, um dos responsáveis da editora, membro dos Paco Hunter e da Zany Dislexic Band e autor dos projectos PZ e Pplectro.
O contexto actual fomenta a mistura de géneros, afirmam quatro dos cinco membros da editora, em conversa com o Ípsilon num café da Foz do Porto. Lembram casos como a Warp e a Matador, editoras que partiram de um som relativamente reconhecível para um catálogo mais heterodoxo sem pôr em causa a sua coerência. "Nos anos 90 havia muitas editoras de nicho. Não haver faz sentido no panorama actual, mas, no nosso caso, é uma questão essencial. Eu nunca ouvi um único estilo de música na minha vida. Não conseguiria ter uma editora só de um género", corrobora o irmão, Zé Nando Pimenta (Paco Hunter, Type e Zany Dislexic Band).
O barco ainda não afundou
Nascida quando a Internet já tinha feito mossa na estrutura tradicional da indústria musical, a Meifumado aposta numa estrutura pequena, mas ágil, formada por pessoas que se conhecem e tocam juntas desde miúdos. Tudo é assegurado por eles ou pelos amigos. Por exemplo: Zé Nando cuida do estúdio da Meifumado, onde já gravaram outros artistas, como Sam The Kid, enquanto Paulo Zé se ocupa do grafismo dos discos.
Sabem que as coisas podem acabar de um momento para o outro - o pequeno manifesto da editora diz "Venham ver o barco a afundar!". "[O barco] Ainda não afundou porque fazemos um pouco de tudo e arranjamos pessoas que fazem vídeos e capas porque gostam da nossa música", justifica Paulo Zé Pimenta. "Começámos com essa atitude porque olhámos à nossa volta e a indústria estava a cair, os discos a venderem menos e menos, toda a gente assustada", acrescenta Zé Nando.
A indústria tradicional ainda se mantém à tona«, mas está "claramente a arrastar-se e moribunda", sobretudo no que toca à venda de discos, acrescenta. "E está a haver uma fusão de tudo. As editoras estão a entrar nos terrenos das agências e vice-versa; as agências estão a editar discos para poderem pôr bandas ao vivo".
"Ninguém sabe o que se vai passar. Não acredito em ninguém que diga que sabe o que se vai passar", prossegue. "Há uma confusão geral". E remata, a sorrir: "A Meifumado sempre foi confusa. Por isso, estamos completamente à vontade". A editora passou a arranjar concertos para as suas bandas e a tratar da sua imagem, dos telediscos e de outros itens da carreira.
Recentemente, Zé Nando, Paulo Zé e Duarte Araújo decidiram abandonar os antigos trabalhos e trabalhar em exclusivo para a Meifumado. A maior disponibilidade explica o relativo frenesim editorial dos últimos tempos: para além da compilação, a Meifumado lançou os álbuns de estreia dos Paco Hunter e MC Jihad (novo projecto de João Roquette, também Preto, cujo trabalho é disponibilizado gratuitamente no "site" da editora). Para 2010, espera-se a estreia dos Guta Naki, pop aberta a contaminações do fado, do tango e do jazz.
Ainda não conseguem ser remunerados pelo trabalho que fazem, mas a Meifumado é uma "questão de fé e de persistência". "Acontece que não sabemos fazer mais nada. Estamos um bocado presos a isto", diz Zé Nando Pimenta. E ri-se, sem sinais de temer o futuro.