População adulta consome mais drogas mas jovens experimentam menos

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A cannabis é a droga preferida dos portugueses Nelson Garrido

O estudo comparativo da população recua a 2001, ano em que Portugal descriminalizou o uso de psicoactivos. Entre 2001 e 2007, subiu a prevalência de consumo ao longo da vida de quem tem 15 e 64 anos: passou de oito para 12 a percentagem de quem já consumiu pelo menos uma vez. No mesmo período, porém, o país sofreu uma "descida generalizada das taxas de continuidade de consumos": de 44 para 31 por cento (excepto no que concerne às anfetaminas e à heroína).

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O estudo comparativo da população recua a 2001, ano em que Portugal descriminalizou o uso de psicoactivos. Entre 2001 e 2007, subiu a prevalência de consumo ao longo da vida de quem tem 15 e 64 anos: passou de oito para 12 a percentagem de quem já consumiu pelo menos uma vez. No mesmo período, porém, o país sofreu uma "descida generalizada das taxas de continuidade de consumos": de 44 para 31 por cento (excepto no que concerne às anfetaminas e à heroína).

O presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), João Goulão, associa o aumento a dois aspectos: "Os consumidores estão a envelhecer e ainda há alguma experimentação entre os mais velhos." E enfatiza o facto de "a subida não ocorrer no grupo 15-19 anos".

Sopram sinais de mudança entre adolescentes. No seu seio, "o consumo de drogas, que vinha aumentando desde os anos 90, diminuiu pela primeira vez em 2006", atesta o relatório. Um estudo feito em 2007 revela que 13 por cento dos alunos de 16 anos usaram cannabis pelo menos uma vez na vida (um a dois por cento, outras substâncias ilícitas). Estabelecendo um paralelismo entre 2003 e 2007, nota-se uma descida em qualquer droga: 18 para 14.

Esta tendência de descida foi constatada em todas as idades. Assim o anuncia outro estudo feito entre alunos dos 13 aos 18 anos. Ao mesmo tempo, "aumentou a percepção do risco do consumo regular das várias drogas, o que indica uma maior informação dos estudantes". Goulão encontra aqui "um sinal de que as estratégias de prevenção estão a dar os seus resultados".

O relatório cita ainda uma investigação que aponta para uma redução das prevalências de consumo de qualquer droga dentro das cadeias: de 47 para 36 por cento, comparando 2001 com 2007. E, neste universo, destaca a redução das taxas de consumo pela vida endovenosa.

As más notícias surgem quando se analisa as mortes. Em 2008, registaram-se 16 mortes causadas por dependência de drogas, de acordo com o critério da Lista Europeia Suscita, (que contabiliza apenas as overdoses). O número ascende a 20 se usarmos o protocolo do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (o que inclui óbitos causados por "psicoses ligadas ao consumo de droga, toxicodependência, consumo de droga não dependente, intoxicação acidental, suicídio e intoxicação auto-infligida, intoxicação com intenção indeterminada).

O presidente do IDT admite que "é preciso estudar melhor este assunto". Arrisca, ainda assim, algumas explicações. Por um lado, "uma população mais velha, mais vulnerável, com patologias associadas e, como tal, mais susceptível de ter acidentes com o uso de drogas". Por outro, as práticas de policonsumo, quando "as drogas podem ter efeitos antagónicos, criar agressões no sistema cardiovascular". Por fim, Goulão acha que é preciso ter em conta "as recaídas após tratamento ou após saída da prisão".

O documento contrapõe estas mortes a outras: mantém-se a tendência decrescente de notificações de VIH/sida associadas à toxicodependência. Há, de resto, cada vez mais toxicodependentes em tratamento: no ano passado, havia 38.532 integrados em ambulatório na rede pública, 7010 dos quais novos utentes. E isto leva Goulão a acreditar que, através das equipas de rua, o país está a chegar a quem estava arredado dos serviços.