Gerry Adams revela abusos sexuais do pai
Adams, que lutou durante anos pela independência da Irlanda do Norte à frente do Sinn Féin, braço político do grupo armado IRA. disse ainda que o pai viveu anos em negação e "morreu como um homem velho e sozinho”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Adams, que lutou durante anos pela independência da Irlanda do Norte à frente do Sinn Féin, braço político do grupo armado IRA. disse ainda que o pai viveu anos em negação e "morreu como um homem velho e sozinho”.
Em comunicado, o líder do Sinn Féin adiantou ter descoberto o que acontecera já nos anos 1990. “Esta descoberta e os abusos que a precederam tiveram um impacto devastador em toda a nossa família”, disse. Até então, Adams pensava que a sua "família era como todas as outras". A partir da descoberta, vivem "todos os dias com as consequências disto”.
Na sexta-feira, Adams apelou a que o seu irmão, Liam Adams, se entregue à polícia e responda pelas acusações de abuso sexual feitas pela sua filha Aine Tyrell, que falou pela primeira vez dos abusos do pai (irmão de Gerry Adams) num programa de televisão nesse mesmo dia. Um mandado de detenção contra Liam Adams foi emitido há um ano.
“Aine precisa de justiça. Isto já foi longe demais. E a única forma pela qual ela conseguirá ter justiça é através dos tribunais”, disse o líder do Sinn Féin, citado pelo “The Guardian”. “E Liam, para bem da filha, especialmente, para bem dele e dos seus outros filhos, deve fazer isso. Deve avançar”. As primeiras acusações de Aine Tyrell foram feitas em 1987, mas o processo arrasta-se desde então. Liam Adams faltou a uma audiência em tribunal que estava marcada para Novembro e acredita-se que esteja escondido na vizinha Irlanda.
Foi no decurso do processo que envolve o irmão e a sobrinha que Gerry Adams descobriu que o pai cometera abusos. “Não quero minimizar por um segundo o sofrimento de Annie. Mas senti por muito tempo que deveríamos tornar público o caso do meu pai como parte do processo de cicatrização de toda a nossa família e também para tentar ajudar outras famílias na mesma situação.”
A família do líder do Sinn Féin recebeu o apoio de especialistas. Os pais tiveram 13 filhos, mas três deles morreram pouco após o nascimento. No comunicado, Gerry Adams diz que os membros da sua família que foram sujeitos a abusos estão ainda a recuperar do trauma. “Debatemos por diversas vezes se deveria ser tornado público o comportamento do nosso pai”, acrescentou. A decisão acabou por ser tomada agora.
“Fazemos isto na esperança de que ajude as vítimas e sobreviventes a ultrapassar o que aconteceu e a seguir em frente após estes terríveis acontecimentos”, explicou. “As crianças precisam de ser ouvidas e protegidas.”
A polícia não chegou a ser envolvida, adiantou a BBC, porque as vítimas nunca quiseram contactar as autoridades. “Aqueles que sofreram abusos nunca quiseram denunciá-lo à polícia. Com todos nós a assimilar isto a diferentes velocidades e com várias perspectivas, tivemos o apoio de profissionais, de outros membros da família e amigos, fomos capazes de sobreviver a isto”, acrescentou Adams.Já nenhuma criança estava em risco quando os abusos foram conhecidos, adiantou o líder do Sinn Féin, que termina o seu comunicado com um pedido: “que os media nos dêem alguma privacidade”.
O debate sobre a violência sexual sobre menores foi suscitado recentemente na Irlanda após a divulgação de dois relatórios, o últimos dos quais em Novembro, que revela que mais de 2000 crianças foram violadas em instituições dirigidas pela Igreja desde 1930 e ao longo de 60 anos. É concluído que a hierarquia católica de Dublin fechou “obsessivamente” os olhos à situação e praticou uma política de silêncio.
O relatório, de mais de 700 páginas, revela que 102 padres foram visados por 320 queixas e que os abusos “foram dissimulados pelo arcebispado e as outras autoridades eclesiásticas”. O actual arcebispo de Dublin, Diarmuild Martin, pediu desculpa e manifestou tristeza pelo encobrimento.
notícia actualizada às 17h50