Um formato de relevo

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Se a sua única memória do 3D é a célebre transmissão televisiva do "Monstro da Lagoa Negra" na RTP-1, há 25 anos, podemos parafrasear os Monty Python: "E agora algo de completamente diferente".
O 3D digital que a indústria promove hoje como formato salvador não tem nada a ver com o formato que fez furor nas salas entre 1952 e 1955: os velhos óculos de plástico colorido que faziam doer a cabeça foram hoje substituídos por um "pastiche" de óculos escuros sobredimensionados em plástico preto, e a projecção digital permite uma definição e um alinhamento de imagem que só em condições felizes era possível encontrar nos anos 1950.

Trocando por miúdos: o 3D digital tem pouco a ver com o velho modelo "analógico", que implicava a projecção sincronizada sobre um écrã reflector de duas películas rodadas em simultâneo com ângulos e filtros diferentes para criar a ilusão de profundidade. A complexidade do sistema, que exigia um sincronismo perfeito entre dois projectores e facilmente era desestabilizada, foi um dos factores que contribuiu para o rápido desaparecimento do formato, embora ressurgimentos posteriores eliminassem a necessidade de dois projectores através de uma justaposição das duas imagens na mesma película.

O actual modelo digital permite que as duas imagens, filmadas em simultâneo de ângulos diferentes, sejam projectadas numa alternância hiper-rápida por um projector único e descodificadas pelos óculos polarizados, reduzindo o cansaço da vista e permitindo que a experiência seja mais confortável para o espectador.

Há, no entanto, problemas a resolver: os óculos absorvem parte da luminosidade da imagem, pelo que a qualidade da projecção será tanto melhor quanto mais forte for a lâmpada do projector e mais reflector for o material da tela da sala. E, naturalmente, o 3D presta-se mais a filmes de grande espectáculo do que a histórias intimistas, levantando dúvidas sobre as afirmações de alguns entusiastas do formato que, um dia, todos os filmes serão feitos em 3D. Joe Dante, que rodou recentemente em 3D o filme de terror "The Hole", dizia aos "Cahiers du Cinéma" que não achava que todos os filmes ganhassem em 3D. Opinião partilhada até certo ponto por David Cronenberg que, quando esteve no Estoril Film Festival em Novembro, admitia que a alta definição é um formato excitante e que o 3D original, nos anos 50, era um "truque desastrado", razão pela qual não durou. Mas o canadiano acredita que "Avatar" pode fazer a diferença entre a tecnologia pela tecnologia e o formato como ferramenta.

Para já, alguns filmes produzidos tradicionalmente têm sido "redimensionalizados" digitalmente para 3D - os dois primeiros "Toy Story" da Pixar e o "Estranho Mundo de Jack" de Tim Burton - com vista a um relançamento em sala e a mais alguns lucros financeiros...

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Se a sua única memória do 3D é a célebre transmissão televisiva do "Monstro da Lagoa Negra" na RTP-1, há 25 anos, podemos parafrasear os Monty Python: "E agora algo de completamente diferente".
O 3D digital que a indústria promove hoje como formato salvador não tem nada a ver com o formato que fez furor nas salas entre 1952 e 1955: os velhos óculos de plástico colorido que faziam doer a cabeça foram hoje substituídos por um "pastiche" de óculos escuros sobredimensionados em plástico preto, e a projecção digital permite uma definição e um alinhamento de imagem que só em condições felizes era possível encontrar nos anos 1950.

Trocando por miúdos: o 3D digital tem pouco a ver com o velho modelo "analógico", que implicava a projecção sincronizada sobre um écrã reflector de duas películas rodadas em simultâneo com ângulos e filtros diferentes para criar a ilusão de profundidade. A complexidade do sistema, que exigia um sincronismo perfeito entre dois projectores e facilmente era desestabilizada, foi um dos factores que contribuiu para o rápido desaparecimento do formato, embora ressurgimentos posteriores eliminassem a necessidade de dois projectores através de uma justaposição das duas imagens na mesma película.

O actual modelo digital permite que as duas imagens, filmadas em simultâneo de ângulos diferentes, sejam projectadas numa alternância hiper-rápida por um projector único e descodificadas pelos óculos polarizados, reduzindo o cansaço da vista e permitindo que a experiência seja mais confortável para o espectador.

Há, no entanto, problemas a resolver: os óculos absorvem parte da luminosidade da imagem, pelo que a qualidade da projecção será tanto melhor quanto mais forte for a lâmpada do projector e mais reflector for o material da tela da sala. E, naturalmente, o 3D presta-se mais a filmes de grande espectáculo do que a histórias intimistas, levantando dúvidas sobre as afirmações de alguns entusiastas do formato que, um dia, todos os filmes serão feitos em 3D. Joe Dante, que rodou recentemente em 3D o filme de terror "The Hole", dizia aos "Cahiers du Cinéma" que não achava que todos os filmes ganhassem em 3D. Opinião partilhada até certo ponto por David Cronenberg que, quando esteve no Estoril Film Festival em Novembro, admitia que a alta definição é um formato excitante e que o 3D original, nos anos 50, era um "truque desastrado", razão pela qual não durou. Mas o canadiano acredita que "Avatar" pode fazer a diferença entre a tecnologia pela tecnologia e o formato como ferramenta.

Para já, alguns filmes produzidos tradicionalmente têm sido "redimensionalizados" digitalmente para 3D - os dois primeiros "Toy Story" da Pixar e o "Estranho Mundo de Jack" de Tim Burton - com vista a um relançamento em sala e a mais alguns lucros financeiros...