Miguel adoptou uma criança, mas Paulo também é pai
Miguel e Paulo (nomes fictícios) partilham há cinco anos a paternidade de uma criança que o primeiro adoptou. Ambos participam nas festas da escola e passam o Natal com a família. “O nosso filho tem uma vida semelhante à das outras crianças”.
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Miguel e Paulo (nomes fictícios) partilham há cinco anos a paternidade de uma criança que o primeiro adoptou. Ambos participam nas festas da escola e passam o Natal com a família. “O nosso filho tem uma vida semelhante à das outras crianças”.
Um ano antes de conhecer Paulo, Miguel adoptou uma criança, de um ano, no país estrangeiro onde residia. Descreve o processo como rápido, eficiente e controlado. Entre a candidatura e a decisão final passaram cerca de 17 meses.
“A nossa relação com a escola e com os restantes pais é excelente. Participamos nos aniversários dos colegas de escola do nosso filho sem problemas. Ele tem uma vida social semelhante à das outras crianças”, garante.
Acrescenta que na escola as reacções foram todas “positivas” e que este ano a professora fez um comentário peculiar: “Disse que já tinha tido uma aluna com duas mães, mas que dois pais era a primeira vez!”
Também a família de Miguel reagiu “muito bem” quando comunicou que ia adoptar uma criança: “A reacção foi de grande acolhimento.”
“Há uma vida familiar muito tradicional. O nosso filho fica com os tios ao fim da tarde, os meus sobrinhos costumam estar cá em casa e não existe qualquer distinção de tratamento entre o meu filho e os primos [em relação aos avós]. Fazemos a vida tradicional da família portuguesa”, afirma.
No ano passado, o Natal foi em casa de Miguel e Paulo e contou com mais de 30 familiares de quatro gerações.
Sobre a possibilidade de em breve se poder casar, Miguel conta que a questão ainda não foi discutida a fundo, mas que uma coisa é certa: “Tudo o que são passos para acabar com as discriminações existentes são bem-vindos. Se o casamento tornar a posição legal do meu companheiro em relação ao nosso filho mais forte é um bom motivo para o fazermos.”
Miguel preocupa-se com o “imbróglio legal” que pode acontecer na hipótese de “morrer amanhã”. Lamenta que “o papel real enquanto pai” que o companheiro tem na vida da criança “não esteja devidamente protegido pelo Estado”.
“Neste caso, é evidente que o superior interesse do nosso filho estaria mais defendido se tivesse os dois pais reconhecidos”, defende.
Quanto aos efeitos da aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo, Miguel diz que irá ter um resultado “muito poderoso” na mudança da percepção pública da homossexualidade.
“O facto de o Estado actualmente tratar de forma diferente relações de amor e familiares entre dois cidadãos é sinal de que o próprio Estado está a cooperar com a discriminação”, lamenta.
Por outro lado, lembra que mesmo que o Estado não legisle sobre a adopção, os homossexuais já são, hoje, pais.