"The Times" revela documento mostrando que Irão testa componente de arma atómica
A revelação, numa notícia assinada pela correspondente do diário em Washington, Catherine Philp, surge numa altura em que se discutiam já possíveis sanções reforçadas contra o regime iraniano, e ainda quando a situação interna no país deixa analistas a anteciparem que será pouco provável uma alteração na abordagem iraniana às propostas ocidentais em relação ao programa atómico.
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A revelação, numa notícia assinada pela correspondente do diário em Washington, Catherine Philp, surge numa altura em que se discutiam já possíveis sanções reforçadas contra o regime iraniano, e ainda quando a situação interna no país deixa analistas a anteciparem que será pouco provável uma alteração na abordagem iraniana às propostas ocidentais em relação ao programa atómico.
O documento detalha um plano de quatro anos para testes secretos de um iniciador de neutrões, o componente da bomba que inicia a reacção em cadeia que a faz explodir, na forma de deutereto de urânio (UD3). Peritos ouvidos pelo Times garantem que este componente não tem outras utilizações para além da militar. Esta é ainda a substância usada no programa atómico paquistanês (o Paquistão terá passado ao Irão grande parte da tecnologia nuclear).
O "Times" cita uma fonte de uma “agência de espionagem asiática” dizendo que esta acreditava que o Irão desenvolvia um iniciador de neutrões, e o editor de internacional da estação britânica Sky News, Tim Marshall, citava fontes que confirmavam a veracidade do documento. Se verdadeiro, este plano põe em causa a garantia iraniana, repetida vezes sem conta, de que o seu programa nuclear serve apenas para a produção de energia para fins civis.
A notícia do "Times" deverá fazer crescer as vozes que pedem sanções reforçadas contra o regime iraniano – mas não houve ainda reacções à notícia. Talvez porque o final do ano foi o prazo estabelecido pelo Presidente norte-americano para a sua política de aproximação a Teerão. E só terminado este prazo, diz Tim Marshall, é que deverão começar os esforços para novas e reforçadas sanções. O Irão já foi sujeito a três rondas de sanções da ONU e analistas dizem que a agitação interna dificultará negociações com o Ocidente sobre o nuclear.
Novas detenções de opositores
E a situação interna continua longe de estabilizar. As autoridades anunciaram hoje detenções de várias pessoas acusadas de terem insultado o fundador da República Islâmica, o ayatollah Khomeini, durante uma manifestação na semana passada: a televisão estatal tinha emitido imagens em que alegados manifestantes rasgavam o retrato do ayatollah Khomeini. A oposição já negou envolvimento neste incidente, acusando as autoridades de montar as imagens.
O procurador de Teerão, Abbas Jafari Dolatabadai, afirmou que foram detidas várias pessoas, todas em ligação com o rasgar do retrato do ayatollah Khomeini, “e uma delas confessou”. “Não haverá complacência para aqueles que insultaram o pai da revolução” de 1979, concluiu.
A manifestação da semana passada foi a maior desde que os protestos pós-eleitorais foram reprimidos com força e detenções. Apesar de não se poder comparar em dimensão aos protestos logo a seguir à votação, a agência Reuters diz que o ambiente era mais radical pois os manifestantes entoaram slogans contra os líderes religiosos e não apenas criticando a vitória do Presidente Ahmadinejad, que dizem ter sido fraudulenta.
Ainda hoje o líder da oposição, Mir-Hossein Mousavi, pediu às autoridades para acabarem com a violência contra a oposição, segundo a AFP. E aconselhou os seus próprios apoiantes a continuar os protestos “de maneira pacífica e no quadro legal para não dar pretextos aos inimigos do povo”.