Degelo da calota glaciar da Gronelândia está a acelerar dramaticamente

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Esta região aquece duas vezes mais depressa do que o resto do planeta Nick Cobbing/Reuters

Este relatório é uma compilação dos resultados científicos recentes sobre a calota glaciar e foi debatido este domingo pelos cientistas na conferência climática de Copenhaga. O documento foi apresentado hoje à margem da conferência.

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Este relatório é uma compilação dos resultados científicos recentes sobre a calota glaciar e foi debatido este domingo pelos cientistas na conferência climática de Copenhaga. O documento foi apresentado hoje à margem da conferência.

Trata-se de um verdadeiro “grito de alarme” relativo a esta região que “aquece duas vezes mais depressa do que o resto do planeta”, lembrou Dorthe Dahl-Jensen, principal autora do documento “A Calota Glaciar da Gronelândia num clima em mudança”.

“É muito surpreendente e preocupante ver tanto gelo a desaparecer” no mar a um ritmo tão acelerado: o volume passou de uma média de 50 mil milhões de gigatoneladas anuais entre 1995 e 2000 para 160 mil milhões anuais de 2003 a 2006.

Um degelo assim representa “o fornecimento de 64 litros de água por dia a todos os habitantes da Terra durante um ano”, indica esta professora do instituto Niels Bohr, da Universidade de Copenhaga.

A calota glaciar, mais de 80 por cento da Gronelândia, está em equilíbrio há décadas, recebendo tanta neve que se transforma em gelo quanto aquela que perde. Mas uma monitorização recente mostra uma alteração significativa. O glaciar de Jakobshavn Isbrea, em Ilulissat recuou 15 quilómetros nos últimos oito anos, lançando cada vez mais icebergs para o fiorde de Ilulissat.

O degelo da calota glaciar contribuirá, segundo a maioria dos modelos actuais, para aumentar entre cinco a dez centímetros o nível dos mares do planeta em 2100, sublinhou Dahl-Jensen.

As alterações climáticas têm consequências directas no modo de subsistência dos Inuits, especialmente na caça e na pesca e sobretudo nas aldeias mais isoladas, salientou Minik Rosing, co-autor do relatório. Mas também oferecem novas possibilidades de exploração mineira, no sector dos transportes marítimos e na produção energética (petróleo e gás) na Gronelândia e nas suas águas.

Para o norte-americano Robert Corell, director do programa sobre alterações climáticas no Centro Heinz em Washington, o aquecimento global é visível a olho nu na Gronelândia. O degelo dos glaciares “está a acelerar dramaticamente. É trágico” porque o aquecimento global tem “um impacto” na sociedade da Gronelândia e no resto do mundo.

Corell pediu aos dirigentes dos 193 países que participam na conferência de Copenhaga que cheguem a um acordo “sólido” para travar o processo de aquecimento.