Manuel Alegre acredita na força dos portugueses para “dar a volta a isto”

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Alegra discursou para apoiantes de 2006 Nélson Garrido

Num encontro com apoiantes da sua candidatura a Belém em 2006, realizado no Entroncamento, Alegre começou a sua intervenção logo a dizer que “a maledicência, a suspeita e o insulto substituíram o debate de ideias e projectos”. “Sobram o sectarismo e a mesquinhez, faltam a generosidade e a grandeza necessárias para nos unirmos em torno de um propósito comum. Sem truques, sem falsas ilusões, mas também sem descrença e fatalismo”, acrescentou.

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Num encontro com apoiantes da sua candidatura a Belém em 2006, realizado no Entroncamento, Alegre começou a sua intervenção logo a dizer que “a maledicência, a suspeita e o insulto substituíram o debate de ideias e projectos”. “Sobram o sectarismo e a mesquinhez, faltam a generosidade e a grandeza necessárias para nos unirmos em torno de um propósito comum. Sem truques, sem falsas ilusões, mas também sem descrença e fatalismo”, acrescentou.

Para o socialista, acima de “sectarismos, das corporações, dos clubes, dos lobbies, das capelinhas e interesses particulares”, está a democracia, está Portugal” e a “crença em valores comuns, na qual acredita que se revêem a maioria dos portugueses, salientando a decência, o trabalho honesto, a liberdade e a confiança nas instituições.

Quanto aos “profetas da desgraça”, “que estão constantemente a decretar o fim iminente de Portugal”, Manuel Alegre disse haver “quem faça disso uma profissão”: “Há quem deva o seu estatuto entre nós ao facto de estar constantemente a passar atestados de doença terminal à democracia e ao nosso país. Mas nada disto é novo. Profetas da desgraça já houve muitos, em todas as épocas da nossa história. E, no entanto, passaram mais de oito séculos e ainda cá estamos.”

Vontade de mudar

A seguir vieram as palavras de esperança nos portugueses, “na magnífica vontade humana”. Em gente que, “mesmo contra a vontade de alguns grandes interesses privados, que em vários momentos da nossa história foram ‘entreguistas’”, tem desejo “de dar a volta a isto”.


E citou vários sectores profissionais e instituições de onde poderá vir a “força da mudança”: pequenas e médias empresas, empresários, trabalhadores, professores – “sobretudo do ensino público” -, de quem se espera “que eduquem os nossos filhos e netos com rigor e exigência, em nome não das estatísticas”, invocando ainda a “experiente diplomacia”, as forças armadas e terminando na justiça.

“[A força] Tem de vir da nossa justiça, de uma justiça independente, imune às pressões, tanto do poder político e económico como das tentações corporativas, uma justiça que garanta a separação de poderes, que restaure a credibilidade das instituições, que permita o funcionamento da economia e que devolva aos portugueses a convicção de que vivemos num Estado de direito, em que há absoluta igualdade dos cidadãos perante a lei”, afirmou.

“Esta é a nossa gente”, disse ainda Alegre lembrando que”é para eles e sobre eles que se deve debater na AR”: “Com uma cultura democrática de negociação, da parte de todos, Governo e oposições. Não há problema em haver discussões fortes no parlamento. Isso é próprio da democracia. E sempre é melhor um parlamento em que se discute do que não haver parlamento nenhum ou então a caricatura que havia na ditadura. Simplesmente: na situação actual é bom que se discuta o que merece ser discutido.”

Esquerdas unidas

Lembrando que a “crise mundial está longe de estar resolvida”, referiu que as grandes instâncias mundiais, OCDE, Banco Mundial, FMI, Banco Central Europeu, “parecem mais empenhadas em preservar o sistema que provocou a crise do que propriamente em resolvê-la”. “O Mundo está sem modelo.”


Para o socialista “é incompreensível que perante a falência da ideologia neoliberal”, as “forças de esquerda na Europa não sejam capazes de encontrar novas soluções e novos caminhos ou, pelo menos, de defender o Estado Social que é a sua principal criação.” Portugal tem a sua própria crise, agravada pela crise mundial. Os tempos estão difíceis. E podem vir tempos piores. Tempos que exigem coragem, verdade e imaginação.

E, mais uma vez, voltou a apelar à união das forças de esquerda em Portugal: ”Será que as esquerdas do nosso país, para além das diferenças dos seus projectos, não serão capazes de fazer um esforço para encontrarem um denominador comum à volta das questões essenciais (…). Será que, tal como em outros períodos históricos, nomeadamente o 25 de Abril, não seremos capazes de ser de novo precursores e descobrir novos caminhos que dêem outro sentido à democracia e outra esperança aos portugueses?”

Para Manuel Alegre, “este é tempo de repor o primado da política e da solidariedade sobre os egoísmos e os grandes interesses”.

“O que hoje se pede aos políticos”, acrescentou, “não é que se refugiem no silêncio, nem em habilidades tácticas ou querelas artificiais”. “O que se lhes pede é verdade, sentido da responsabilidade, vontade de mudança.”

E terminou dizendo que há um objectivo que deve unir todos os portugueses: “Esse objectivo é Portugal. Esse combate vale a pena e chama por nós. Para mudar, não para que tudo continue na mesma. Basta ter esperança e acreditar no nosso poder, no poder dos cidadãos. Porque Portugal não é só de alguns, Portugal é de todos.”